quinta-feira, 25 de março de 2010

O "cogito agostiniano"

  Talvez o espaço mais adequado para responder a um comentário seja justamente o dos comentários. Mas eu sempre me dou o direito - talvez por falta de competência nesse "protocolo bloguístico" - de trazer comentários que acho muito relevantes para o corpo principal do blog... até onde penso, isso efetiva a participação dos amigos dos "amigos de Spinoza".
  Desta vez, trago um comentário feito a um post de 16 de janeiro de 2009 - Caracas... que "eternidade" tem um post, hein!?! -, por Márcio Fernandes, ontem... mais de um ano depois.
  Só relembrando, no post original, eu prestava um reconhecimento à boa análise de Paulo Ghiraldelli Jr. quanto ao "eu", em "A História da Filosofia - dos pré-socráticos a Santo Agostinho".
   Ghiraldelli Jr., inicialmente, nos posicionava quanto à concepção platônica da alma tripartida em razão, paixões e coragem ("ações irrefletidas") - ou, em termos mais convencionais, "razão, emoções e instintos". Explica-nos Ghiraldelli que Agostinho inova ao inserir um elemento decisório ativo, que corresponderia ao "eu".
  Nas minhas considerações finais, escrevi: "Eu, por exemplo, sempre questiono a possibilidade de falar em 'livre arbítrio', por acreditar no 'eu' justamente como essa 'interseção de forças psíquicas' e não como uma 'instância decisória' transcendente ao conjunto razão-paixão-coragem (ou, pelo menos, da dupla 'razão-paixão'). Agostinho, colocando a vontade acima do trio razão-paixão-coragem realmente possibilita a concepção do 'eu' como totalmente livre e, portanto, com um comportamento plenamente 'responsabilizável' no plano ético . Os antigos, limitando a alma ao trio em questão, possibilitam pensar no comportamento ético correto como uma restrição das paixões pela razão".
  Fica claro, portanto, que Descartes não inaugura, de modo algum, a "subjetividade"... conforme apregoam os manuais. Se procurarmos com cuidado, é Agostinho de Hipona que o faz.
  Márcio Fernandes pergunta se conheço o texto em que Agostinho faz referência diretamente a essa ideia. Pensei, imediatamente, nos "Solilóquios". Mas fui pesquisar mais. Deparei-me com duas fontes interessantes. A primeira é o livro "Santo Agostinho - a vida e as ideias de um filósofo adiante do seu tempo", de Gareth B. Matthews, publicado pela Editora Zahar. Desse livro, há um capítulo biográfico disponível, através do endereço http://www.zahar.com.br/doc/t1055.pdf . Entretanto, como há também o índice, pode-se ver que o livro aborda, no seu capítulo quinto, especificamente o "cogito agostiniano".
  Entretanto, o melhor que achei foi o trabalho de Sávio Laet de Barros Campos, filósofo pela UF de Mato Grosso, disponível no endereço http://www.filosofante.org/filosofante/not_arquivos/pdf/Cogito_Agostinho.pdf ,
que traz inclusive o registro de três obras de Agostinho onde o "cogito" é pensado - em "Solilóquios", que eu já havia mencionado acima; em "A Trindade" e em "A Cidade de Deus".
  Gostei muito desse último trabalho, e acho que ele pode muito bem servir ao Márcio, bem como a todos que quiserem apreciar essa inauguração do pensamento do "eu" na Filosofia.
  E... obrigado pela visita, Márcio. Volte sempre! 

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