terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Último post do ano

   
   Queridos amigos dos amigos:
   Este é o último post do ano. A quantidade deles, ao longo de 2013, ficou bem abaixo do razoável. Obviamente, isto não ocorreu sem motivos. Vamos ver se em 2014 estes "motivos" ficam tão raros quanto foram os posts, e os posts tão presentes quanto estiveram os "motivos". Rsss.
   Minha expectativa é que realmente as coisas fiquem um pouco mais tranquilas, e que possamos trocar mais ideias.
   No entanto, hoje, só quero registrar meus votos de boas entradas e muitas felicidades neste próximo ano.
   Grande abraço a todos.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Melhor livro do ano


   É fato que o ano ainda não acabou, no entanto, tenho que registrar aquela que foi a melhor leitura que empreendi até agora. Trata-se do livro Descartes - das paixões à moral, de Benes Alencar Sales, publicado pelas editoras da Universidade Católica de Pernambuco e Loyola, neste ano de 2013.
   Em tempos de pesquisa, o mais natural é não ler livros inteiros. "Ataca-se" diretamente a parte que pode ser assimilada - como num processo digestivo - no âmbito da pesquisa que está sendo desenvolvida. No meu caso, o foco era a segunda parte do livro, principalmente em seu primeiro item, que diz respeito às "Teorias das paixões dominantes no século XVII anteriores ao Tratado [das Paixões, de Descartes]"... não por causa do filósofo francês, mas por causa da possível repercussão destas teorias sobre o meu querido Spinoza.
   O fato é que o livro é tão "envolvente", que se fez obrigatório aceitar o convite de proceder a uma leitura integral. Aprendi muito sobre as teorias anteriores àquela desenvolvida por Descartes, além obviamente da que ele mesmo produziu. E devo reconhecer que, pelo menos em intenção, algumas propostas cartesianas se aparentavam com as de Spinoza. Certamente, as visões metafísicas distintas dos dois filósofos deixaram marcas nas suas concepções acerca das paixões e da moral que daí adviria.
   Este será um livro que necessariamente precisará ser percorrido novamente dentro em breve, para fixar melhor seu conteúdo, e fazer com que este renda frutos no que respeita a Spinoza.
   Agradeço, sincera e profundamente, ao belo trabalho de pesquisa do professor doutor Benes Alencar Sales.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

"O enigma de Espinosa" (2)


   Xiiii... acabei esquecendo de registrar um último item esquisito no livro. Trata-se de uma citação da Ética, na página 71. Lá estão as seis primeiras - das oito - definições que aparecem logo na abertura do texto de Spinoza. A terceira está registrada assim:
    "III. Por substância compreendo aquilo que existe em si mesmo e que por si mesmo é concebido teologicamente, isto é, aquilo cujo conceito não exige o conceito de outra coisa do qual deva ser formado."
   Ora, de onde vem o tal "teologicamente", desta definição? Meu texto em Português não tem isso! Fui verificar uma versão  inglesa respeitada, com introdução do Don Garrett, e também não há "teologicamente" algum! Em Francês? Também não!
    Prova dos Nove, agora: o Latim.
   "III. Per substantiam intelligo id quod in se est et per se concipitur; hoc est id cuius conceptus non indiget conceptu alterius rei, a quo formari debeat".
   Resolvido. Pergunto, então, como é que o "teologicamente" foi parar no texto do Yalom!?!?!?

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O amigo Grunenwald


   O amigo Grunenwald já chegou lançando seu comentário no blog. Que ótimo!
   Antes de tudo, seja bem vindo. Aproveito para agradecer por ter colocado o "Spinoza e amigos" na sua lista de favoritos. Espero que os posts ajudem em algo.
   Sobre a idade para filosofar, segundo Epicuro, nunca é tão cedo nem tão tarde para iniciar essa atividade. Portanto, digamos que você está na idade certa... fosse ela qual fosse. Rssss.
   Que bom que Spinoza está planejado como próximo "alvo" dos seus estudos. Em relação a Montaigne, nem sei se é possível estudá-lo metodicamente. Alguns dos Ensaios são realmente muito bons. O "pai do racionalismo moderno", Descartes, inclusive, se apoia nele quase literalmente... se bem que não lembro exatamente em qual dos Ensaios - "chutaria" Apologia de Raimond Sebond.
   No livro do Yalom, este último, sobre Spinoza tem um conselho interessante, que me lembrou um que dei ao meu compadre Mundy, com relação a outro texto e filósofo. 
   O Friedrich, amigo de Alfred Rosenberg, no romance, diz: "Ah, começou pela Ética. Esse foi o seu erro [...] Devia ter começado com o Tratado Teológico-Político, que é bem mais simples". 
   Eu teria sugerido o Tratado da Reforma do Intelecto ou mesmo o Tratado Político, mas cada um dá o seu palpite.
   O fato que eu lembrei, em relação ao compadre, foi quando ele disse que tinha comprado um livro do Nietzsche, para começar a conhecer o bigodudo. Então, eu disse: "Só não comece por Assim falou Zaratustra", ao que ele retrucou: "Foi justamente esse que eu comprei". 
   Adivinhem se ele leu o livro... 
   

Mais amigos


   Pouco tempo após recebermos nosso 91º amigo, o Jório, vemos que crescemos mais um tanto. Somos, agora, 93. Na lista, só percebi o acréscimo da foto do Dino. Fico pensando, então, que o outro novo amigo seja alguém que não colocou sua foto. Procurando na lista de amigos, penso que deva se tratar do Cláudio Vieira.
   Esteja eu certo ou não, o fato é que temos mais amigos no blog. Sejam bem vindos, e fiquem à vontade para postar comentários a qualquer dos posts, e mesmo para lançarem assuntos que não estão "em pauta" em determinado momento.
   Grande abraço, Dino... e, se eu estiver correto, Cláudio.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

"O enigma de Espinosa"

   
   Há algum tempo já sabia que o romancista Irvin D. Yalom escreveria um livro que incluiria Spinoza como personagem principal. Isso já nos tinha sido comunicado por um dos "amigos dos amigos", nosso querido Guilherme Fauque.
    Também há algum tempo, vi o livro em Inglês. Só pensava assim: "Terá que ficar para mais tarde, pois há muito o que ler agora!". 
   Na semana retrasada, entretanto, vi que o livro já estava traduzido para nosso bom Português. Pensei, então: "Compro, e vou lendo aos pouquinhos, nos intervalos das leituras obrigatórias!". "Risível" essa frase, visto que não existem "intervalos" entre leituras obrigatórias. Há, sim, falta de espaço para tantas delas.
   Mas eis que, de repente, num ato de rebeldia, propus-me um sabath de leituras obrigatórias, e me lancei de modo sério ao romance. 
   Que delícia... Ah... Revisitar a vida de nosso querido Spinoza é tão agradável. E o Yalom escreve de modo tão interessante. Até hoje tenho boas recordações do Quando Nietzsche chorou. A cura de Schopenhauer já não foi tão arrebatador assim, mas este O enigma de Espinosa, apesar da estrutura semelhante àquele sobre Schopenhauer, é muito legal.
   Ao final do livro, ainda fiquei sabendo de fatos sobre a relação atual dos judeus - ou, pelo menos, de parte deles - com o excomungado Spinoza que desconhecia totalmente. O filósofo tem até uma rua com seu nome em Tel Aviv!?!?
   Repetindo a especialista nietzscheana Scarlet Marton, que considerou o livro sobre Nietzsche bastante bem escrito, com ideias do bigodudo melhor esclarecidas, inclusive, do que em livros introdutórios de Filosofia, gostei dos diálogos imaginados por Yalom, em que apareciam as ideias do holandês.
   No entanto... há umas passagens que achei meio problemáticas.
   Por exemplo, na página 9, está escrito "o entendimento leva à transcendência". Esse "transcendência" fica bem esquisito, visto que Spinoza é justamente o filósofo da imanência. Aparentemente, o "transcendência", aí, não está colocado de modo técnico. Trata-se de algo como dizer que o entendimento possibilitaria uma superação do estado atual de determinado homem. Mas fica um tanto descabido seu uso. Aliás, essa foi a única palavra que verifiquei no original, e não se trata apenas de um "engano" do tradutor.
   Na página 128, existe a afirmação de que "A Natureza, que é infinita, eterna e engloba todas as substâncias do universo...". Ora, embora não seja um texto primordialmente técnico, poder-se-ia evitar essa confusão - meio aristotélica - com uma multiplicidade de substâncias. 
   Na página 182, um detalhe histórico. Até onde sei, o texto da excomunhão foi produzido em "ladino" - uma espécie de dialeto que misturava Português e Espanhol -, e não em hebraico, sendo traduzido para o Português oralmente.
   Na página 214, "... foi Espinosa que introduziu a era moderna; o Iluminismo e o surgimento das ciências naturais haviam começado com ele". Não sei quem sugeriu essa ideia de "introduzir a era moderna" ao Yalom. Vale lembrar que o autor agradece ao Steven Nadler e à Rebecca Goldstein. É certo que há discussões sobre isso, mas geralmente o nome de Spinoza não participa delas. Há defensores de Bacon, de Pascal e outros... menos de Spinoza - embora a tradição mais forte se refira normalmente a René Descartes mesmo. Além disso, falar do "surgimento das ciências naturais" vinculada a Spinoza é muito esquisito.
   Na mesma página, outra esquisitice: "... John Locke, que, por sua vez, se inspirou em Espinosa". Alto lá, Yalom. Locke se inspirando em Spinoza?!?! Apesar do mais contemporâneo dos contemporâneos de Spinoza, visto que nasceram no mesmo ano de 1632, as publicações filosóficas de ambos foram tardias, fazendo com que Spinoza não lesse Locke e que, provavelmente, fosse por demais avançada a publicação póstuma dos textos do holandês para influenciar o inglês. Vale lembrar, inclusive, que a tão propagandeada "tolerância" lockeana não alcançaria o "ateísmo" de Spinoza - conforme rótulo dado por Bayle.
   A página 243 narra o atentado a Spinoza. Até onde lembro - vale pesquisar - o evento se deu à saída da sinagoga, e não de um teatro, como mostra o romance.
   Na página 253 há a seguinte fala de Spinoza: "... levar em conta pensamentos não tão conscientes, tanto os que me ocorrem à noite quanto os que ocorrem durante o dia". É lógico que Yalom tenta mostrar uma filiação da Psicanálise a Spinoza. Eu até acho muito interessante admitir essa possibilidade. Mas acho que o autor carregou muito nas tintas, colocando esse "não tão conscientes" e evocando os sonhos.
   Por último, uma curiosidade apenas, para alguém que assumidamente não conhece o idioma hebraico: a palavra herem (excomunhão) sempre é escrita cherem, por Yalom. Em todos os livros que já li, sempre vi a primeira forma. Quem souber de onde vem a segunda, que mais lembra a localidade de Xerém, onde são formados os brilhantes atletas futebolistas do meu querido Fluzão, por favor, ajude esse pobre spinozano que escreve.
   São pequenos detalhes de um ótimo livro. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Clóvis de Barros Filho


   Já há algum tempo, comprei um pequeno livro, bem "simpático", de divulgação da Filosofia, de nome A Filosofia explica as grandes questões da humanidade, publicado, agora em 2013, pela Casa do Saber e Casa da Palavra, de autoria de Clóvis de Barros Filho e Júlio Pompeu.
   O prof. Júlio Pompeu, eu já conhecia, de um curso na Casa do Saber, sobre Machiavelli. O prof. Clóvis de Barros Filho, no entanto, era, para mim, totalmente desconhecido. Gostei dele, de pronto, pela estorinha que consta da "Advertência" que abre o livro. E depois de ver parte da sua entrevista no Programa do Jô, fiquei completamente admirado com sua maneira de apresentar a Filosofia... especialmente pela ênfase que deu à abordagem do nosso querido Spinoza.
   O livro tem capítulos referentes à Ética, Moral, Liberdade, Identidade, Poder, Dominação, Justiça e Lei e à Virtude. E o link para assistir à entrevista é http://agorasim.blog.br/?p=3616 .
   Vale a pena conferir ambos.

Um novo amigo dos amigos


   Oi, Jório. Antes de tudo, seja bem vindo a este nosso espaço.
   Como sempre, dou uma espiada nos blogs acompanhados e no perfil dos novos amigos. Eis que, além do fato de gostarmos de Filosofia, temos em comum a Taquigrafia. Minha mãe, ensinou-me seu método, o Oscar Leite Alves. Que coincidência, hein!
    Seja, portanto, duplamente bem recebido, pelo amigo da Filosofia e pelo amigo da Taquigrafia, Ricardo!
    E já somos 91 amigos dos amigos!

Corrida


    Continuo com meu plano de correr uma meia maratona. Para quem começou a correr "oficialmente" - ou seja, a participar de provas organizadas - no final do ano de 2012, num percurso de 5 km, acho que, menos de um ano depois, estar flertando com os 21 km é algo bem interessante... principalmente se levarmos em conta que, daqui a alguns anos, chegarei ao meio-século.
    Hoje, consegui correr 19 km... Estou chegando lá!
    Apesar dessa minha participação no mundo das corridas, aprendi uma coisa por esses dias: não se fala em "recorde" em maratonas. Aliás, fala-se, mas não se deveria falar. No site globoesporte.com, por exemplo, lemos: "Wilson Kipsang sobra nas ruas de Berlim e quebra recorde da maratona".
    A explicação para não se dever falar em "recorde", e sim em "melhor marca", é que a maratona, devido ao seu longo percurso e por ser uma prova de rua, guarda características próprias em cada local onde é disputada. Explicando melhor: a mesma distância de 41,2 km pode, em determinado local, contar com dois aclives longos e, em outro, pode ser totalmente plano. Em tese, embora iguais em distância, o primeiro percurso deverá ser cumprido mais lentamente que o segundo. 
   No caso da Maratona de Berlim, por exemplo, onde foi estabelecida a nova marca, o trajeto é considerado um dos mais "rápidos" entre os utilizados nesse tipo de prova. 
    Acho que terei que procurar um trajeto "super-rápido" para a meia maratona, a fim de não fazer feio no tempo de corrida. Rssss.

domingo, 29 de setembro de 2013

Livros


   O lugar que mais visito são as livrarias - Não contem isso à minha mãe, pois ela ficará com ciúmes destas casas comerciais. Portanto, sempre estou por dentro das novidades das estantes. Obviamente, nem todas as novidades são tão interessantes a ponto de serem adquiridas. Nos últimos dias, no entanto, encontrei duas que, penso, valeriam a pena ser comentadas.
   A ordem de apresentação é proposital, entretanto, não por conta de uma hierarquização qualitativa. Primeiro, apresento o livro de caráter mais geral quanto à Filosofia; depois, um de âmbito mais restrito, mas que tem grande apelo à nossa realidade verde-amarela.
  Primeiro, Olá, Consciência! Uma viagem pela filosofia, dos portugueses Mendo Henriques e Nazaré Barros, publicado pela É Realizações Editora, agora em 2013. 
    Depois, Filosofia política para educadores - democracia e direitos das minorias, do nosso querido Paulo Ghiraldelli Jr. - um dos amigos dos amigos, aliás -, publicado pela Manole, também em 2013.
   Enquanto o primeiro livro é bastante geral, mas não se trata apenas de um breve resumo das áreas da Filosofia - afinal, o livro tem aproximadamente quatrocentas páginas. De qualquer forma, os dez primeiros capítulos dizem respeito a "O que é a filosofia, a verdade e o conhecimento, como se distingue a filosofia do senso comum e da ciência, o que são o espaço e o tempo, a matéria e o cosmos, a linguagem e o ser"; enquanto nos capítulos seguintes, de 11 a 21, "emergem as questões sobre o ser humano, sociedade, história, economia, política, ética, estética e religião" - segundo o "Ponto de Partida", que é uma espécie de Prefácio, nos informa. 
   É verdade que esses temas podem ser encontrados em diversos livros de Filosofia, mas a linguagem é leve e o texto passeia por vários filósofos dentro de cada um dos temas abordados. Bastante interessante.
   O segundo livro está conversando com o nosso quotidiano. Ghiraldelli trata temas que precisam ser discutidos filosoficamente, e não apenas ideologicamente, como se tem usualmente feito. É o caso da legalização das drogas, da "palmada pedagógica", do aborto, da Bíblia na escola, das cotas étnicas e muito mais. Gostei muito... do pouco que li.
   Dois livros que, no mínimo, merecem ser folheados com cuidado nas livrarias. Particularmente, acho que merecem mais: serem adquiridos e lidos. Mas isso é opção de cada um.
   Comprei ambos... mas até agora, sinceramente, não consegui parar para lê-los sequencialmente. 
   

sábado, 28 de setembro de 2013

Spinoza em Inglês (3)


    Em Spinoza's Ethics - An Introduction, Steven Nadler cita algumas obras de referência para o estudo da filosofia moral spinozana. Na lista, aparece o ensaio Spinoza's Moral Philosophy, de Edwin Curley. Obviamente, parti em seu encalço. Um grande problema é que se tratava de um ensaio que fazia parte do livro Spinoza - A Collection of Critical Essays, editado por Marjorie Grene, da Anchor Press, publicado em 1973... 1973!!!
   Para minha sorte, consegui o livro. O texto do Curley é fundamental, mas... há outros fantásticos - pela rápida lida que pude dar. E me surpreendeu ainda mais ver um texto que eu já queria há muito, do Leszek Kolakowski, The two eyes of Spinoza, que eu já vira publicado isoladamente, mas não adquirira. Agora, ele veio no pacote. Especialmente a Parte Três do livro The Nature of Man and Society, parece bastante interessante, focada na psicologia, na ética e na política spinozanas.

Spinoza em Inglês (2)


   Ainda seguindo o post anterior, vejamos o que Michael Della Rocca escreve no primeiro capítulo do seu Spinoza: "All philosophers seek to make the world and our place in it intelligible. [...] However, almost all philosophers expect explanations to run out at some point, whether because of the limitations of our cognitive faculties or because of the recalcitrance of the world itself which admits of certain brute facts, facts without any explanation. 'My spade is turned', as Wittgenstein famously says when explanations reach a limit. This admission is, of course, nothing more than a sober and, perhaps, healthy acknowledgment of our finitude and of the bruteness of reality. And, as I said, almost all philosophers reach this point. Almost all philosophers. But not Spinoza. His spade is never turned. Spinoza's philosophy is characterized by perhaps the boldest and most thoroughgoing commitment ever to appear in the history of philosophy to the intelligibility of everything. For Spinoza, no why-question is off limits, each why-question - in principle - admits of a satisfactory answer".
    Esse Spinoza não é fácil... um escavador cuja pá nunca para!

Spinoza em Inglês


   Meu primeiro contato com Spinoza, como já registrei muitas vezes no blog, se deu através de um texto do francês André Conte-Sponville. Em seguida, várias doses de História da Filosofia, seguidas de nossa nacionalíssima Marilena Chauí. Ousadamente, fui então à Ética - reconheço, hoje, que sem a competência suficiente para tal. De qualquer modo, continuei transitando sempre pelos comentadores franceses. Será que, inconscientemente, desconfiava do excesso de analiticidade daqueles de língua inglesa? Sei lá!
   O fato é que comecei a me render ao "Spinoza em Inglês" por conta de Steven Nadler. Depois dele, já registrei minha admiração pela leitura de Michael Della Rocca, Don Garrett, Edwin Curley e, por último, Stuart Hampshire - embora, cronologicamente, o "Renascimento Inglês de Spinoza" tenha começado justamente por este último. Ou seja, o idioma Inglês está em alta nas leituras spinozanas do autor deste blog.
   Mas o que eu queria mesmo registrar aqui era a minha percepção de que, apesar da admiração dos franceses - e dos comentadores de outras nacionalidades também, como os brasileiros e os portugueses -, os anglo-americanos são fascinados pelo holandês. Os elogios ingleses são de uma magnitude ainda maior do que aqueles que encontramos em Francês ou Português.
   Vejam só o que escreve Hampshire, em Spinoza and Spinozism: "A philosopher has always been thought of as someone who tries to achieve a complete view of the universe as a whole, and of man's place in the universe. He has traditionally been expected to answer those questions about the design and purpose of the universe, and of human life, which the various special sciences do not claim to answer. Philosophers have generally been conceived as unusually wise or all-comprehending men whose systems are answers to those large, vague questions about the purpose of human existence which present themselves to most people at some period of their lives. SPINOZA FULFILS ALL THESE EXPECTATIONS" (Grifo meu).
   Quanta admiração, hein, Spinoza! Mas também... Quanta responsabilidade, hein, Spinoza!

Racismo no futebol


   Em conversas futebolísticas com amigos, sempre louvo o Clube de Regatas Vasco da Gama pela iniciativa de eliminação do racismo no futebol brasileiro. Neste ponto, aliás, tenho que reconhecer que meu Fluzão, com aquela estória de passar pó-de-arroz para "branquear" os atletas negros marcou um grande "gol contra".
   Hoje, saiu uma matéria em O Globo que conta a história dessa iniciativa vascaína. Lá está escrito o seguinte: "Quando o Vasco tentou disputar a primeira divisão carioca, em 1924, a associação futebolística condicionou sua participação na liga à retirada de doze negros e mulatos de seu time. [...] O Vasco se recusou a cumprir a medida e preferiu competir entre os times pequenos". 
   Para se perceber como foi grande a atitude do clube, basta ler o que diz Carlos Alberto Figueiredo da Silva, autor do livro Racismo no futebol, na própria matéria: "Foi o primeiro manifesto mundial contra o racismo de uma entidade esportiva". Repito: Primeiro manifesto mundial!!!
   Apesar desse reconhecimento que presto ao Vascão, vim a saber, através da matéria, e quero registrar aqui, que o glorioso Bangu Atlético Clube teve o primeiro atleta negro a disputar uma partida oficial no Brasil, já em 1904.
   Parabéns, Bangu!
   E se não fossem por essas atitudes espetaculares, talvez, tivéssemos ficado sem o nosso rei Pelé.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Laurent Bove


   Hoje, participei da palestra, na UFRJ, do pensador spinozano Laurent Bove. Aliás, assisti apenas à primeira parte da palestra, que foi prevista como uma espécie de "entrevista" do grupo de estudos do professor André Martins ao convidado francês. As perguntas feitas durante a minha presença - certamente preparadas com a supervisão do nosso dileto especialista brasileiro em Spinoza - foram de alto nível, pensadas pelos companheiros Pablo e Eduardo - com os quais tive o prazer de cursar uma disciplina ministrada pelo professor André. Mais impressionante ainda foram as respostas, bem estruturadas e claras, de Bove. 
   De quebra, ainda obtive um autógrafo no meu exemplar do livro Espinosa e a psicologia social - Ensaios de ontologia política e antropogênese, o único publicado por Bove no Brasil.
   Depois comento mais.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Novos amigos dos amigos

   
   Hoje, escrevo só para atualizar a recepção dos "amigos dos amigos" de Spinoza. A última vez em que fiz isso, cumprimentei a Mariana Belize. Já contamos com mais amigos, desde então. Embora meu desejo seja sempre recepcionar os novos amigos individualmente, como não foi possível fazê-lo, registro as boas vindas de forma coletiva.
   Então, vamos lá!
   Sejam bem vindos os novos "amigos dos amigos" Alex from Ipanema, Ana Lúcia de Souza Silva, Regina Costa e Francis Newton Boccia.
   Espero que gostem do blog, que voltou a funcionar, depois de uma paradinha, mas que ainda está longe das pretensões deste que vos escreve. De qualquer forma, sintam-se à vontade para colocar suas ideias por aqui.
   Grande abraço a todos... os noventa!

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Spinoza e Aristóteles

   
   Há bem pouco tempo, fiz um trabalho traçando um paralelo entre o Tractatus de Intellectus Emendatione, de Spinoza, e a Ética a Nicômaco, de Aristóteles. O texto não cobria integralmente as duas obras, mas tão somente o início das duas. 
   Na minha concepção, as aproximações são muito fortes. Tentei mostrar isto no tal trabalho. Continuo achando, cada vez mais, que a beatitudo spinozana é idêntica à eudaimonia aristotélica. Além disso, os desdobramentos políticos das duas "éticas" - spinozana e aristotélica - são óbvios, principalmente a partir da análise destas duas obras dos filósofos.
   Um problema que encontrei, no entanto, foi conseguir uma forte ancoragem em algum comentador. Normalmente, as comparações entre os dois eram sempre muito breves.
   Stuart Hampshire, por exemplo, diz: "In his account of pleasure as arising from a strong sense of activity (energeia), Spinoza comes close to Aristotle's account in the Nicomachean Ethics".
   Steven Nadler reforça uma possível ligação, dizendo: "The person who is virtuous has achieved the supreme natural condition of well-being and happiness. He experiences what the ancient Greeks called eudaimonia, happiness or flourishing as a human being".
   Entretanto, só agora encontrei uma apresentação melhor fundamentada desta ligação, no livro Spinoza: une lecture d'Aristote, de Frédéric Manzini - do qual, por enquanto, eu só tenho uma resenha. Esta explica que "The first part [do livro de Manzini] discusses Spinoza's ethical and political theories - where, the autor claims a influence of Aristotle is most manifest - against the background of the Nicomachean Ethics and the Politics. Here, much attention is given to the notions of the summum bonum and beatitude". E a resenha ainda diz que "According to Manzini, Aristotle was one of Spinoza's first major philosophical interlocutors".
    Tão logo seja possível, providenciarei o livro. 

Método Geométrico e Racionalismo (2)

   
   Continuando o post que relacionava o método geométrico a Descartes, mas usando, agora, a referência do comentador Wolfgang Bartuschat.
   Bartuschat começa contando a mesma estória sobre o pedido feito a Descartes, nas segundas objeções às Meditações Metafísicas, para que expusesse sua doutrina segundo o método geométrico, e escreve:
   "Mas esse tipo de apresentação, Descartes salienta-o, nada prova por ele mesmo; por isso, é mais fraco que o procedimento praticado nas Meditações, e poder-se-ia apenas conferir-lhe um significado pedagógico com respeito ao leitor. O procedimento 'analítico' das Meditações, que atinge princípios na forma meditativa, requereria do leitor, a cada um dos seus passos, a máxima atenção, sem a qual a exposição facilmente poderia perder em força persuasiva. Ante isso, o procedimento 'sintético' do método geométrico, que tira consequências de proposições prévias, teria a vantagem de conseguir, pela constante referência às proposições prévias, a anuência também do leitor".
   Portanto, o "método geométrico", segundo Descartes, prestar-se-ia apenas para prender mais a atenção do leitor, não tendo a força comprobatória da exposição meditativa. 
   Diante disso, realmente fica parecendo que o empirista Hobbes se empolgou mais com o mos geometricus que o racionalista - e matemático - Descartes.
   Quem diria, hein?!

"Spinoza and Spinozism"

   O título do post é o mesmo do famoso livro de Stuart Hampshire, publicado pela Oxford University Press. A versão que tenho é a reimpressão de 2009.
   O que impressiona no livro é que ele é uma coletânea de três textos de Sir Stuart Hampshire (1914-2004), tendo estes sido produzidos ao longo de 53 anos - Repito... 53 anos!!! - de estudos de Spinoza.
   O primeiro, na ordem apresentada na coletânea, foi escrito entre 2001 e 2004, portanto, nos últimos anos de vida do emérito professor; o segundo, é uma introdução clássica ao pensamento spinozano, publicado em 1951, enquanto o último trata especificamente da ideia de liberdade em Spinoza, produzido em 1962.
   Depois, escreverei mais sobre estes textos.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

A segunda parte da "Outra parte"

  Spinoza escreve, logo no Prefácio da Parte 5 da Ética, que passa à "alteram ethices partem". Ficamos com impressão de que as quatro primeiras formavam uma única parte, enquanto "A Potência do Intelecto ou a Liberdade Humana" é outra totalmente diferente.
   De qualquer modo, não é exatamente a "Parte 5" que me chama atenção, como um todo pelo menos. Até a Proposição 20, tudo vai bem. No entanto, quando nosso filósofo conclui o escólio da mesma proposição, com aquela frase "É, pois, agora, o momento de passar àquilo que se refere à duração da mente, considerada sem relação com o corpo" (Grifo nosso), a coisa fica esquisita.
   Particularmente, assumo que não entendo o que se passa. Não chego a pensar - como li certa vez - que, daí em diante, o texto poderia ter sido enxertado na obra spinozana. Mas, que não entendo, isso não entendo. Mas sigo tentando... com meus parcos recursos intelectuais.
   Entretanto, hoje me senti mais feliz. Estava lendo Steven Nadler, justamente sobre essa parte, no que pode sugerir uma aparente crença de Spinoza na "imortalidade da alma", e vi que estou bem acompanhado. Nada mais, nada menos que Edwin Curley diz "in spite of many years of study, I still do not feel that I understand this part of the Ethics at all", e completa "I feel the freedom to confess that, of course, because I also believe that no one else understands it adequately either". Ou seja, não só ele reconhece que não entende esta parte, como também diz acreditar que ninguém entende... incluindo, obviamente, este que escreve. 
   Ufa... sinal que não sou tão burro assim. Rsss

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Método Geométrico e Racionalismo

   
   Se o "método geométrico" fez algum sucesso com o empirista Hobbes - como já vimos no post anterior -, impossível negar que seu ápice se deu com o racionalista Spinoza. Mas, embora o holandês tenha se debruçado sobre a obra do inglês na década dos 1660, aparentemente seu "gosto" pelo mos geometricus é herança cartesiana. No entanto, o próprio Descartes parece ter tido alguma resistência quanto ao método em questão. Sinal disso é o que nos conta Steven Nadler, no seu Spinoza's Ethics - An Introduction, quando diz que, ao pedido de Marin Mersenne para escrever o argumento das Meditações em método geométrico, Descartes sugere que o modo em que estava desenvolvido o texto - ou seja, não demonstrativo - se prestava a um entendimento melhor.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Método Geométrico e Empirismo

  
 Todos estamos acostumados a associar o Método Geométrico de exposição aos racionalistas. A proposta do uso deste método aparece, nos Manuais de Filosofia, sempre ligada ao "pai do Racionalismo Moderno", René Descartes (1596-1650). O acabamento mais perfeito deste método se encontra, obviamente, em nosso querido Spinoza, com sua Ethica ordine geometrica demonstrata. Até aqui, nenhuma novidade.
   Interessante, entretanto, foram duas leituras que fiz há pouco tempo. Uma, do esplêndido Uma nova História da Filosofia, do Anthony Kenny, e outra, menos famosa, mas de muita qualidade também, Espinosa, de Wolfgang Bartuschat.
   Kenny conta, citando John Aubrey, que Thomas Hobbes, com aproximadamente quarenta anos, leu uma proposição nos Elementos, de Euclides, e a achou impossível, "até que por fim ele se convenceu, por demonstração. [...] Isso fez dele um apaixonado pela geometria". Hobbes "vira então a utilidade do método geométrico para a exposição de questões filosóficas".
   Bartuschat, entretanto, explica que "Hobbes o limitara [o método geométrico] aos campos em que os objetos podem ser, de fato, engendrados por nós [... como] na política, cujas leis reguladoras da convivência humana são decretadas por nós".
   Embora Spinoza fosse leitor de Hobbes, não acredito que tomou deste a confiança no Método Geométrico, que certamente lhe veio como herança do Cartesianismo juvenil.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Homem trabalhando .... muito!!!


   Queridos amigos, em breve, voltarei com força total... que não é tão forte assim. Rsss. Mas, pelo menos, produz mais posts do que têm sido vistos nestes últimos tempos.


"Forjado no Inferno, pelo próprio diabo"

   Nosso mercado editorial é muito complicado mesmo.
   Outro dia, passei numa grande livraria aqui do Rio e vi "Um livro forjado no Inferno", do Steven Nadler, publicado pela Editora Três Estrelas. Tenho o livro em Inglês, que é de 2011.
   A publicação de livros de qualidade no Brasil, falando do nosso querido Spinoza, é algo que só podemos louvar. Mas, seguindo a lógica, deveríamos ter, do próprio Nadler, primeiro Spinoza - A life, que é de 1999, e Spinoza's Ethics - An Introduction, de 2006. Ambos, muito mais que simples introduções ao pensamento do filósofo.
   Mas... deixem estar. Como eu disse, o importante é termos mais um bom livro tratando do pensamento spinozano. Este, aliás, falando sobre o Tratado Teológico-Político.
   Vale a pena!

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Veduca

   Caros amigos dos amigos, descobri, nas minhas andanças "néticas", um site chamado "Veduca" que tem vídeo-aulas produzidas por instituições da importância de Oxford, Stanford, MIT e etc., distribuídas por vários temas, inclusive a nossa querida Filosofia.
   Acessei o site e me cadastrei, mas tenho que confessar que ainda não tive tempo de assistir à aula nenhuma. Entretanto, logo que se escolhe a Filosofia, aparece um curso de cinco horas sobre a Crítica da Razão Pura, produzido por Oxford. 
   Dá água na boca, não é?
   Acho que vale a pena dar uma conferida. O endereço do site é http://www.veduca.com.br
   
    Um detalhe interessante: há emissão de certificados.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O problema da Filosofia (2)

   Lembrei-me de ter lido algo que teria a ver com o post anterior em Hume. Fui dar uma olhada nas Investigações sobre o entendimento humano. Na Seção 4, Parte 1, Parágrafo 12, Hume escreve:
   "[...] o resultado de toda filosofia é a constatação da cegueira e debilidade humanas, com a qual deparamos por toda parte apesar de nossos esforços para evitá-las ou dela nos esquivarmos".
    Em resumo, quem não quiser descobrir as próprias limitações, é melhor não começar a pensar e filosofar. Rsss.

O problema da Filosofia

   O filósofo espanhol Fernando Savater, em seu ótimo livro As perguntas da vida, escreve:

   "Filosofamos partindo do que sabemos para o que não sabemos [...]; em muitas ocasiões filosofamos contra o que sabemos, ou melhor, repensando e questionando o que acreditávamos já saber. [...] quem não for capaz de viver na incerteza fará bem em nunca se pôr a pensar".

   Savater registra que a ousadia de perguntar tem que acompanhar a coragem de permanecer numa constante incerteza a respeito de algumas coisas. Entretanto, há talvez necessidade de uma coragem ainda maior: saber algo que não agrada ou que vai contra as próprias convicções.
   A saída para quem não tem essa coragem é não se pôr a pensar.
   Eu tenho uma pessoa conhecida que é casada com uma outra, a qual é cristã. Essa primeira pessoa, minha conhecida, é muito investigadora, e está sempre a pensar sobre o mundo. Um dia, inquiriu à outra o que ela pensava sobre um ponto específico da sua religião. A pessoa perguntada respondeu tranquilamente: "Eu não quero pensar, pois tenho medo de descobrir que nada do que acredito é verdadeiro!".
   Bem honesta, essa pessoa. Mas será que dá realmente para desligar o botão investigativo? Particularmente, acho que eu não conseguiria. Aliás, foi bem assim que fui deixando o Cristianismo e mesmo o Budismo, isto é, pondo-me a pensar sobre aquelas crenças que deveriam ser também as minhas.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

O "vulgo" é algo a ser temido

   Spinoza, como Machiavelli, é um grande cientista social... talvez, por ambos entenderem muito bem a psicologia humana.
   Na Parte IV da Ética, proposição 37, escólio 2, Spinoza fala do Estado - na verdade, o assunto começa um pouco antes, mas a indicação direta e formal acontece aí. E depois continua tratando dessa associação dos homens em comunidade - tudo, sob a perspectiva da força das paixões.
   Na proposição 54, escólio, aparece uma passagem que poderia, facilmente, passar como machiavellina, que corresponde ao controle que se faz sobre a "multidão" - ou o "vulgo", nos termos de   Spinoza. Esse "controle" se faz necessário visto que, como nos diz o holandês, "Terret vulgus, nisi metuat".
   Escreve Spinoza:
   "Como os homens raramente vivem sob o ditame da razão, esses dois afetos, quer dizer, a humildade e o arrependimento [que não são virtudes, para Spinoza], assim como a esperança e o medo, trazem mais vantagens que desvantagens. Portanto, se pecar for inevitável, é preferível que se peque por esse lado. Com efeito, se os homens de ânimo impotente fossem, todos, igualmente soberbos, se não se envergonhassem de nada, nem tivessem medo de coisa alguma, como poderiam ser unidos e estreitados por quaisquer vínculos? O vulgo, se não tem medo, é algo a ser temido. Não é de admirar, por isso, que os profetas, que visavam não a utilidade de uns poucos, mas a utilidade comum, tenham recomendado tanto a humildade, o arrependimento e a reverência. Na verdade, os que estão tomados desses afetos podem ser muito mais facilmente conduzidos que os demais a viver, finalmente, sob a condução da razão, isto é, a serem livres e a desfrutarem de uma vida de beatitude".
   Spinoza mostra uma espécie "benevolente" de manipulação, pelos profetas, sobre o "vulgo". Mas é interessante perceber que essa ideia permanece presente, ainda hoje, com vistas a planos bem menos preocupados com um desfrute de uma vida mais livre por parte destes que são "conduzidos" pela "humildade, arrependimento, reverência, medo e esperança". 

terça-feira, 30 de abril de 2013

"Acima das paixões"

   Por estes dias, foi publicada, na revista encartada no jornal O Globo, uma matéria que tratava do júri popular presente nos tribunais.
   O texto explicava toda a dinâmica de escolha e participação das pessoas que compõem o júri. Como fonte de informação, a matéria cumpria bem seu papel. Mas penso que não haveria nada que merecesse espaço aqui no blog.
   Entre as fotos publicadas, entretanto, havia uma que era de uma placa que se encontra no Museu da Justiça. Nessa placa, estavam inscritas as seguintes palavras:
"Cidadão Jurado!
Engrandeça este Tribunal,
engrandecendo-se.
Agigante-se dentro de si mesmo,
decidindo ACIMA DAS PAIXÕES.
Não sinta ódio, nem pena, de ninguém.
Julgando com a sua consciência, 
não tenha medo de errar.
Entrando neste recinto, 
só aceite compromisso com a lei
e com a sua dignidade." (O GRIFO É MEU)

   Sem querer discordar da instituição "Tribunal de Júri", realmente para decidir "acima das paixões"? 
    Mesmo concordando com outras partes da citação, como "não sinta ódio" ou "só aceite compromisso com a lei e com a sua dignidade", esse excesso de racionalismo chega a ser ingênuo.
   Eu não sei quando a placa foi escrita. Provavelmente, o foi naqueles áureos tempos do Positivismo. Desculpa-se, neste caso, aquela crença excessiva na razão. Mas... o pior é percebermos que, ainda hoje, se acredita nessa possibilidade de um ser humano "à la Spock" - de Jornada nas Estrelas -, no qual a paixão pode - e deve, inclusive - estar dissociada da razão para que se possa proceder a um julgamento bem feito.
   Mais feliz foi Spinoza ao propor uma espécie de "razão afetiva"!          

quarta-feira, 24 de abril de 2013

85ª amiga dos amigos

    Mariana Belize, seja bem vinda!
   Temos a sorte de ter mais alguém capaz de compartilhar conosco as aventuras de um pensar vivo. Espero que a Mariana possa, em algum momento, atualizar essa possibilidade.
   Mariana, sinta-se à vontade para fazê-lo quando desejar, tanto colocando comentários sobre algum post, quanto sobre algum assunto que deseje.
   Grande abraço!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O "mistério" do Mundo

   
   Na segunda parte de O Mundo como Vontade e Representação, Schopenhauer fala sobre o espírito filosófico, que se espanta/admira diante do quotidiano, buscando investigar, então, mesmo aquilo que não suscita a curiosidade das demais pessoas.
  Ao final de sua análise, ele escreve algo muito interessante, que está absolutamente conforme sua descrição anterior, mas que, em certa medida, contraria o senso comum. Diz ele:
   "Quanto menos um homem é inteligente, menos mistério tem para ele a existência".
   Seria bom entender o "inteligente", não necessariamente como uma capacidade inata, mas sim como uma espécie de resultado do exercício do intelecto.

A tragédia do estupro (3)

   A Parte III da Ética contém uma passagem que lembra bem o que sentimos no caso de "tragédias" tão marcantes quanto aquela do estupro que tem ganho espaço neste blog.
   Trata-se do escólio da Proposição 52. Lá está:
   "Esta afecção da mente, ou essa imaginação de uma coisa singular que, sozinha, ocupa a mente, chama-se admiração [Aqui, com o sentido de 'espanto']. Se, entretanto, a admiração [ou espanto] é provocada por um objeto que tememos, designamos por pavor, pois a admiração [ou espanto] diante de um mal mantém o homem de tal maneira suspenso na sua exclusiva consideração que ele é incapaz de pensar em outras coisas que lhe permitam evitá-lo. [...] Chama-se, além disso, horror, se o que nos admira [ou espanta] é a ira, a inveja, etc."
   No caso do "horror" que sentimos na situação em questão, ele representa o espanto não só pela "ira, inveja, etc.", mas sim pelo conjunto de afecções produzidas pelos "não-humanos" que perpetraram aquelas ações.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Steven Nadler

   Depois que li Espinosa - vida e obra, do Steven Nadler, passei a nutrir grande admiração por esse autor, que é professor de Filosofia da University of Wisconsin-Madison.
   Consegui comprar, já há algum tempo, Spinoza's Ethics - An Introduction, publicado pela Cambridge University Press. O livro é fantástico. Por esses dias, consegui outro dele: A book forged in Hell. Esse, publicado pela Princeton University Press, em 2011, versando sobre o Tratado Teológico-Político, de 1670. Não li ainda, mas, por conta de um "preconceito" (positivo), imagino que deva ser ótimo também.
   De qualquer forma, o que eu queria registrar era um resumo que Nadler faz da Ética, em apenas um parágrafo, e que dá uma noção interessante da profundidade do livro de Spinoza.
   Escreve Nadler:
   "Spinoza's ultimate goal in the Ethics is to demonstrate the way to human happiness in a deterministic world filled with obstacles to our well-being, obstacles to which we are naturally prone to react in not entirely beneficial ways. Before he attempts to answer that ethical question, though, it is necessary for Spinoza to reveal the nature of the world itself, as well as the nature of ourselves as human beings and our place as knowers and agents in that world. Thus, before it enters the terrain of moral philosophy (in Parts Four and Five), the Ethics begins with metaphysics (Part One), a philosophical anthropology and a theory of human knowledge (Part Two), and a philosophical psychology (Part Three)".
   Lido isso, qualquer um pode partir tranquilo para explorar esse "tesouro" que é a Ética.
    Obrigado pela participação no blog, Nadler... indiretamente, é claro! Rsss. 

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Mente sã... em um corpo sadio

   Uma mais leve, agora... Ufa...   
  
   Se é possível existir uma mente sem um corpo, eu não sei. Opino que não seja. De qualquer forma, enquanto estou na "duração" - lembrando nosso querido Spinoza -, vou cuidando desse "modo finito da Extensão" - repetindo, também o luso-holandês.
   Ultimamente, para cuidar do corpo, tenho corrido. Bem... na verdade, correr, já o faço desde uns dezoito anos, sozinho; mas agora estou participando de corridas de rua, com aquele montão de gente. Tem sido muito interessante. O ambiente é bastante legal. Pena que não haja uma "Corrida Filosófica"... Vou sugerir isso a alguém. 
   Ops... voltando do meu desvio...
   Ontem, domingo, participei de uma corrida no Aterro do Flamengo - Série Delta, 1ª etapa. Antes, só corria 5 km. Oficialmente, foi meu debut nos 10 km. E não é que consegui ficar em 21º lugar na minha categoria ("coroas" entre 45 e 49 anos)?! Boa estreia, não foi?
   À noite, tive que fazer uma reidratação com cervejas. Afinal, ninguém é de ferro. Rsss.

Marco Feliciano

   Sinceramente este senhor, que é pastor evangélico e deputado federal, não me espanta com nenhuma de suas afirmações. Portanto, seus ataques homofóbicos e racistas, apesar de causar indignação, não despertam estranheza.
   Hoje, soube da divulgação de um vídeo - não prestigiei o Sr. Marco Feliciano nem mesmo assistindo à exibição - onde o "homem de Deus" e "representante do povo" diz que Deus teria matado John Lennon e os integrantes dos "Mamonas Assassinas". Não se pode negar que, em certa medida, o "ilustríssimo" deputado está dizendo a verdade; afinal, desde criancinha, sempre escutei que Deus controla tudo no mundo. Portanto, cada morte, seja ela violenta ou não, atende a um desígnio seu. 
   Mas... obviamente não foi isso que o Sr. Feliciano - antes ele se chamasse "Tristeciano"! - quis dizer. O que ele propôs foi que, por causa de Lennon dizer que os Beatles eram mais famosos que Jesus Cristo e das músicas dos "Mamonas" terem conteúdos inadequados, eles foram castigados, tendo mortes violentas.
   Por incrível que pareça, também não me causou espécie isso.
  E, pasmem, também não estranho o sujeito ter um "rebanho" - que, como todo rebanho, é conduzido pelo seu pastor... mesmo que ele, o pastor, mas não necessariamente o deputado-pastor, seja um louco e jogue todas as ovelhas precipício abaixo -, e que este rebanho, agora, do deputado-pastor comungue da mesma opinião que ele, seja sobre homossexuais, negros, Lennon, etc.
   Assustem-se mais ainda. Também não estranho que o tal "rebanho" vote em seu pastor, e que tenhamos que dizer que ele é "nosso" deputado. Afinal, isso é o que se chama de "democracia" - não era à toa que Platão não gostava dela!
   O que me assusta mesmo é um país grande como o nosso - em extensão e em riquezas, mas pequeníssimo, micro mesmo, em cultura - ter um sistema de "troca de favores" tão humilhante que coloque um "senhor" como esse em uma comissão legislativa tão importante como é a dos Direitos Humanos.
   Para esse Brasil, porque eu quero descer!

A tragédia do estupro (2)

   Não bastasse tudo o que já soubemos que aconteceu na "van do medo e da piedade", hoje é veiculada a notícia de que as três "coisas" foram "oferecer" a moça, já violentada e machucada fisicamente, a outra "coisa" numa "comunidade", e que ela foi recusada. Infelizmente, entretanto, não podemos ficar felizes com o suposto ato de dignidade humana de quem recebeu a oferta. O fato simples é que ela estaria "muito estragada".
   Isso me faz lembrar uma conversa filosófica que tive, em certa oportunidade - certamente, depois de alguma outra barbaridade cometida por um pretenso "ser humano" -, com meu amigo Henrique Peres. O tema era se alguém, através de alguma ação - ou mesmo omissão -, poderia perder seu status de "ser humano". Ou seja, algum ato faz com que um homem perca a qualidade da humanidade?
   Ambos concordamos que isso seria possível. O problema seria definir o responsável em decidir a perda da "humanidade" e o novo estatuto - ontológico, jurídico, político, etc. - desse "indivíduo".
   Continuo com uma ideia meio problemática quanto a isso. Penso sempre que se a nossa sociedade é de seres humanos, alguém que não o é não pode sequer ficar encarcerado, já que as prisões são também feitas - em tese, pelo menos - para indivíduos dessa espécie - "espécie", aqui, não no sentido meramente biológico, visto que, neste sentido, o tal indivíduo nunca perderia as qualidades que o distinguem de outras espécies animais.
   Penso, entretanto, que se Aristóteles está certo em relação ao homem ser um zoon politikon, só pode ser homem quem se submete a algum regramento político - e obviamente jurídico.
   Portanto, se houvesse uma instância capaz de decidir pela exclusão de um determinado indivíduo da "categoria" de ser humano, penso que ele deveria ser definitivamente exilado do "mundo humano", ainda que isso custasse a própria existência biológica desse ser.
   Difícil debate, hein!
   Tenho um livro sobre esse tema. Depois comento sobre ele.   

quinta-feira, 4 de abril de 2013

A tragédia do estupro

   Se eu acreditasse em reencarnação, diria que já fui uma mulher e que fui estuprado, ou melhor, estuprada, em alguma vida anterior. Digo isto por conta dos afetos que surgem em mim diante de casos  de violência sexual contra mulheres.
   Como não acredito em reencarnação, limitar-me-ei a fazer uma reflexão filosófica sobre a questão.
   Pensei logo na Poética, de Aristóteles, que analisa as tragédias.
   Lá, o Estagirita fala das emoções/paixões que surgem na plateia diante da representação do enredo. E essas emoções são as de piedade e medo.
   Percebendo o sofrimento não merecido de alguém, apiedamo-nos desta pessoa, e, ao nos identificarmos com sua condição humana, tememos pela possibilidade daquilo também acontecer conosco.
   No caso que me faz escrever - o do casal de turistas submetido a violência física e psicológica, durante seis horas, tendo sido a moça estuprada durante várias horas por três "coisas" -, o problema é que sentimos isso, mas não se trata de um enredo  - ou mythos, como escreve o macedônio -, e sim de um fato. Ficamos, portanto, privados daquela "barreira de irrealidade" que nos possibilita fazer uma experiência psicagógica saudável, que gerará efeitos positivos, transformando-nos eticamente, depois da katharsis, produzindo mesmo um prazer, segundo nosso filósofo.
   Sem essa "barreira", não estamos diante daquela universalidade do que "poderia ser", mas sim efetivamente do que é. Parece-me, então, que toda a teoria peripatética "vai por água abaixo" - embora tenhamos que fazer justiça a Aristóteles de que sua teoria não foi postulada para estas condições reais. Neste choque de realidade, ficamos com heleos (piedade) e phobos (medo) remoendo nossa alma/psyché, sem conseguir aquela salutar katharsis.
   O que fazer agora? Esse é um momento de cuidado, para que não cedamos àquela proposta simplória e pobre de "Tem que matar! Tem que castrar! Tem que estuprar, também!".
   Mas também temos que evitar a crença de que estes homens foram simplesmente moldados pelas circunstâncias - certamente violentas - que envolveram a constituição de suas subjetividades.
   Difícil, hein!

quinta-feira, 28 de março de 2013

Blogs do Além (2)

   Quando eu escrevi sobre o "Blogs do Além", ano passado, reclamei que ainda não havia um blog escrito pelo "espírito" desencarnado - melhor dizer "mente" desencarnada - de Spinoza.
   Atendendo a pedidos dos fãs, acho eu, o "medium" Vitor incorporou o holandês e fez um blog dele.
   Achei o "Blog do Espinosa" mais fraco que muitos outros produzidos pelo Vitor, mas vale a pena conferir. O endereço é http://www.blogsdoalem.com.br/espinoza/

Subliminar

   Quem é o autor do seguinte trecho?
   "Se quisermos ter um entendimento válido de quem somos e, portanto, de como reagiremos a certas situações, temos de entender os motivos de nossas decisões e comportamentos; e, ainda mais fundamental, precisamos entender nossos sentimentos e suas origens. De onde eles vêm?"
   Ok... Poderia ser de muita gente boa! Reconheço. Mas tem bem a cara do nosso querido Spinoza, não é?!
   Entretanto, o trecho é do capítulo nove, "Sentimentos", do livro Subliminar - Como o inconsciente influencia nossas vidas, de Leonard Mlodinow (mesmo autor de O Andar do Bêbado), lançado pela Editora Zahar, agora, em 2013.
   Eu comprei o livro, fundamentalmente, por causa desse capítulo, mas parece ser um trabalho bastante interessante.
   Depois, eu comento mais.

Nietzsche e a "segunda natureza"

   Meu entendimento sobre a proposta spinozana de nos libertarmos da "escravidão de nossas paixões" é de que ele entende que devemos nos modificar o suficiente para que determinados sentimentos que nos submetem, e que, portanto, nos fazem agir de uma forma que não é saudável para nós mesmos, percam esta força. De certo modo, o que acontece é que se desenvolve em nós uma alteração na nossa própria "natureza" - ou, como diria a ética aristotélica, no nosso "caráter".
   Curiosamente, esse meu modo de entender a proposta spinozana não é declarada tão explicitamente assim pelo holandês, mas aparece "com todas as letras" na Segunda consideração intempestiva (1874), de Nietzsche.
   O bigodudo escreve:
   "Pois porque somos o resultado de gerações anteriores, também somos o resultado de suas aberrações, paixões e erros, mesmo de seus crimes; não é possível se libertar totalmente desta cadeia. Se condenamos aquelas aberrações e nos consideramos desobrigados com relação a elas, então o fato de provirmos delas não é afetado. O melhor que podemos fazer é confrontar a natureza herdada e hereditária com o nosso conhecimento, combater através de uma nova disciplina rigorosa o que foi trazido de muito longe e o que foi herdado, implantando um novo hábito, um novo instinto, uma segunda natureza, de modo que a primeira natureza se debilite".
   É interessante perceber que a proposta nietzscheana vai além do "novo hábito" aristotélico, criando até mesmo um "novo instinto" - algo mais fundamental, mais primário - e uma nova natureza. Se não fosse um antiessencialista, Nietzsche teria escrito "uma segunda essência".
   Muitas vezes penso que, se Nietzsche continuasse estudando Spinoza, ele seria um bom spinozano! Rsss.

Atualizando nossa lista de amigos

   Eu sempre procurei receber bem nossos novos "amigos dos amigos". Entretanto, desde que nos tornamos 78, não fazia uma recepção formal aos que cá chegavam.
   Assumo minha total culpa por esse lamentável fato. A única "desculpa" a apresentar é que a própria atualização do blog tem sido "espasmódica" - dá-se um espasmo... quero dizer, uma atualização agora, e depois ficamos muito tempo sem outra. Com essas passagens rápidas, a intenção de acolher os novos amigos ficava sempre deixada para depois.
   Não posso, entretanto, deixar de fazê-lo agora. Não só pelo fato de que já somos 84, mas também porque recebemos a visita de alguém que já foi várias vezes citado por aqui, o professor Paulo Ghiraldelli Jr., que muito admiro.
   Então, reforçando meu pedido de desculpas, agradeço a todos pela carinhosa adesão ao grupo de "amigos dos amigos" de Spinoza. 
Ficarei orgulhoso se, sentindo-se totalmente à vontade neste nosso espaço, os novos amigos Marcello Bax, Valdemar Habitzreuter, Diogo Borges e Ângela - além do próprio professor Ghiraldelli, obviamente - quiserem registrar aqui seus pontos de vista sob o que foi postado... ou até sobre o que não foi.
   Espero, verdadeiramente, que possam encontrar alguma reflexão interessante no meio desse "caos semiorganizado" que é este blog.
   Grande abraço a todos. Sejam bem vindos.
    

Jacob Burckhardt (3)

   Desculpem-me da insistência no Sr. Burckhardt, mas eu não poderia perder a oportunidade de assinalar uma última coisa em relação a ele, que só aumenta minha simpatia.
   Ainda da Introdução de Peter Burke:
   "Ao contrário de muitos historiadores praticantes, Burckhardt não era filosoficamente iletrado. A despeito de alegar-se inepto para a especulação e o pensamento abstrato, estava bastante familiarizado com as ideias de Hegel e Schopenhauer, bem como com as do jovem Nietzsche, com quem costumava sair a passear e discutir ideias".
    Essa passagem demonstra que o pensador maduro Burckhardt conseguia "trafegar" pelos caminhos da Filosofia. Certamente isso é muito interessante, mas o que me chamou mais atenção foi outra passagem da Introdução, que narra uma opinião mais "juvenil" do historiador suiço.
   "Ainda estudante da Universidade de Berlim, expressou por escrito seu pesar pelo fato de que a filosofia da história fosse ensinada por seguidores de Hegel, 'a quem sou incapaz de entender'".
   Senti-me feliz por compartilhar, com alguém tão importante para a História do pensamento humano, essa "incapacidade de entender Hegel".
   Ufa... Que alívio! Não sou só eu. Rsss

Jacob Burckhardt (2)

   Somente lendo sobre Burckhardt - ainda na Introdução, escrita por Peter Burke, ao A cultura do Renascimento na Itália - é que entendi completamente porque nossa "amiga dos amigos" Maria é tão apaixonada por História.
    Vejamos o que Burke conta:
    "Sua [de Burckhardt] postura estava tão distante do positivismo quanto de Hegel. Enquanto os positivistas viam a história como uma ciência e a atividade do historiador como uma coleta de 'fatos' retirados dos documentos e o relato 'objetivo', segundo eles, do que 'efetivamente' acontecera, Burckhardt via a história como uma arte. Para ele, esta era uma modalidade da literatura imaginativa, aparentada à poesia".
   Conhecendo a paixão de nossa amiga pela poesia, e sabendo que um historiador como Burckhardt consegue aproximar História e Poesia, compreendi tudo.

terça-feira, 26 de março de 2013

O Português da argentina

Por conta de uma "rivalidade" que existe entre Brasil e Argentina - não sei se proveniente do futebol, tendo contaminado o resto; ou se proveniente de todo o resto, tendo contaminado o futebol -, muitos brasileiros se sentiram humilhados com a escolha de um papa argentino. O apelo ao número de católicos - nem tão católicos assim, admitamos! - brasileiros em comparação ao de argentinos parecia ser suficiente para determinar a escolha de um papa do Brasil, como primeiro representante das Américas no trono de Pedro, em vez de um "hermano".
   Sinceramente, a escolha de um argentino não mudou em nada a minha vida. Particularmente, até acho esse papa muito simpático. É certo que isso não basta para ser o líder de uma religião culturalmente tão importante para o Ocidente como é o cristianismo... mas já é um bom começo.
   O que me espantou, entretanto, foi outra notícia relacionada à Argentina: "Argentina leva prêmio de língua portuguesa".
   Espera aí! Assim é demais! Mas o pior é ser verdade.
   O fato é que a argentina Martina Mizraje, de 17 anos, estudante do St. Francis College, em São Paulo ganhou o prêmio da Cambridge International Examinations por conta da nota máxima em prova de proficiência em língua portuguesa. 
   Se o concurso fosse só para estrangeiros, eu até aceitaria tranquilamente uma moça argentina receber o prêmio, mas o que chama atenção é que ela enfrentou brasileiros e portugueses. Ou seja, uma argentina sabe mais Português do que nós brasileiros - que, realmente às vezes, maltratamos nossa língua mãe -, mas também mais do que os próprios "donos" do idioma.
   Só falta, agora, a Argentina ganhar a Copa de 2014, aqui dentro do Brasil!

quarta-feira, 13 de março de 2013

Jacob Burckhardt

     Uma leitura leva à outra.   
  Lendo as considerações nietzscheanas a respeito da História, chega-se ao nome de Jacob Burckhardt (1818-1897), historiador - e pensador da História -, que conviveu com Nietzsche.
   Aliás, a Introdução escrita por Peter Burke ao famosíssimo livro A cultura do Renascimento na Itália, publicado no Brasil pela Companhia das Letras, em 2009, registra que: "O professor [Burckhardt] impressionou até mesmo um jovem aluno de 24 anos, Nietzsche, que, segundo ele próprio escreveu, somente ao ouvir Burckhardt falar sobre 'Os grandes homens na história' sentiu, pela primeira vez na vida, prazer em assistir a uma aula". 
   Vindo de Nietzsche, isso não é pouca coisa, não!!!


Esquecimento e Recalque

   A Segunda Consideração Intempestiva - Da utilidade e desvantagens da História para a vida, de Nietzsche, faz uma crítica da cultura de seu tempo, a partir do que o bigodudo chama de "historische krankheit" (doença histórica).
   Segundo o filósofo alemão, o "excesso de história", ou seja, supervalorição do conhecimento histórico acaba por "sufocar" a criatividade do vivente, que fica como que impotente em presença da grande carga que o passado e a tradição lhe impõem.
   Sem poder agir, o homem se imobiliza... e o critério nietzscheano para determinar se a História está sendo vantajosa, que é a vida, perde vigor, estabelecendo a "condenação" momentânea da "Historie".
    O texto é muito rico. A História, nele, não é um monolito, criticado tresloucadamente. Haverá espécies de História, cada uma delas tendo suas utilidades e desvantagens.
   De qualquer forma, esse não é um post sobre a Segunda Intempestiva como um todo, mas apenas sobre uma pequena passagem que diz respeito ao conceito nietzscheano de "Esquecimento". Só a partir dessa atividade é que o vivente se livraria do peso do passado, o qual impedia suas ações. Trata-se, portanto, de uma necessidade de um "espaço a-histórico", mesmo sendo reconhecido que o homem é um ser histórico.
   O comentador Günter Figal, no livro Nietzsche - Uma introdução filosófica, publicado no Brasil pela Mauad-X, escreve: "'todo vivente', diz Nietzsche, 'só pode tornar-se saudável, forte e frutífero no interior de um horizonte'; O QUE NÃO CONSEGUE SUBJUGAR PRECISA SER ESQUECIDO, e, então, ele não 'está mais aí'".
   Quem não lembra do conceito de "Recalque" freudiano, lendo isso?

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Umberto Eco e Spinoza

   Tenho estudado muito a Retórica e a Poética de Aristóteles ultimamente. O interesse tem sido traçar um paralelo entre a teoria das emoções do Estagirita e de Spinoza.
   Encontrei um texto do Umberto Eco, chamado "A Poética e Nós", que foi publicado aqui no Brasil dentro de Sobre a Literartura, em 2003, pela Record. Neste texto, pelo próprio título percebe-se, o foco era um comentário sobre o tratado aristotélico sobre a poesia/tragédia. Apesar das aproximadas quinze páginas, o texto é bastante interessante.
   Um dos itens abordados por Eco é a importância que Aristóteles dá ao mythos da tragédia - isto é, ao enredo, ou à fábula, como por vezes é traduzido também. O curioso, entretanto, é que Eco evoca a Ética spinozana para falar disso. Achei fantástica essa passagem, e gostaria de citá-la. É bem verdade que um certo conhecimento das teorias de Umberto Eco sobre Literatura ajuda muito, mas mesmo quem não tem esse background pode perceber como está legal o trecho.
   "Em meu Lector in fabula tentei mostrar como é possível encontrar uma fábula até mesmo sob o texto (aparentemente desprovido de enredo) que abre a Ética de Espinosa: Per causam sui intelligo id cujus essentia involvit existentiam; sive id cujus natura non potest concipi nisi existens.
   Há pelo menos duas fabulae encaixadas. Uma concerne a um agente gramaticalmente implícito (ego) que desempenha a ação de compreender ou significar e que, ao fazê-lo, passa de um conhecimento confuso a um conhecimento  mais claro de Deus. Recordemos que se intelligo é entendido como 'compreendo' ou 'reconheço', então Deus torna-se um objeto que não é modificado pela ação; porém, se por esse verbo se entende 'quero significar' ou 'quero dizer', então o agente institui, através do ato da própria definição, o seu objeto de discurso [...]
   Este objeto, com os próprios atributos, é além disso sujeito de uma outra fábula. É um sujeito que cumpre um ato através do qual, pelo fato de ser, existe. Parece que nesta aventura da natureza divina nada acontece, pois não há intervalo temporal entre atuação da essência e atuação da existência [...] Encontramo-nos certamente diante de um caso limite, no qual tanto a ação, quanto o curso de tempo encontram-se em um grau zero [...] É pouco para uma história de aventuras, mas é suficiente para que se perfilem as condições essenciais para uma fábula [...] O Leitor Modelo de uma história do gênero é um místico ou um metafísico [Obviamente, é nesse último caso que me incluo. Rsss], um cooperante textual capaz de experimentar emoções intensíssimas diante deste não-acontecimento, que não cessa de deslumbrá-lo por sua excepcionalidade. Também o Amor Dei Intellectualis é uma paixão ardente: experimenta-se estupefata e contínua surpresa ao reconhecer a presença da Necessidade."
   Eu gostei...

Montaigne e a poesia

   Uma bem curtinha.
  Segundo Michel de Montaigne (1533-1592), "Na verdade,  Filosofia é poesia sofisticada".
   Se nosso amigo Platão ouve isso, hein! Depois de expulsar os poetas da politeia, teria que expulsar os filósofos! Rssss.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Primeira postagem de 2013

   Aqui no Rio de Janeiro, temos a mania de dizer que o ano só começa após o carnaval, mas nem eu mesmo me dei conta de que levamos isso tão a sério... tanto assim que o blog só ganha seu primeiro post já passado o evento momesco.
   Aliás, acho que é a primeira vez na história do blog que um mês inteiro fica sem post algum.
   Levarei um tempo para responder os comentários dos queridos amigos, que deixaram seus recados carinhosamente, mesmo que o inepto autor do blog não atualizasse o mesmo. De qualquer forma, tentarei fazê-lo em breve.