quarta-feira, 22 de julho de 2015

Ainda as paixões


   Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) concordava com Diderot, pelo menos no Emílio, em relação às paixões. Ele escreveu: "Nossas paixões são os principais instrumentos de nossa conservação; portanto, é um empreendimento vão e ridículo querer destruí-las".
   Já o também fracófono Jean Paul Sartre (1905-1980) pensava diferente. Disse ele, em O existencialismo é um humanismo: "O existencialismo não acredita no poder da paixão. Jamais pensará que uma bela paixão é uma torrente devastadora que conduz fatalmente o homem a certos atos e que, consquentemente, é uma desculpa. Pensa que o homem é responsável por sua paixão".
   A visão de Sartre corresponde coerentemente ao seu projeto existencialista, no que diz respeito à liberdade do homem. Contudo, penso que sua percepção da natureza humana - e, principalmente, da psicologia humana - perde, em termos de qualidade, para a de muitos outros filósofos que vieram antes dele. O reconhecimento de algo que nos escapa e que nos motiva abaixo do nível da consciência, ou da razão, ou pelo menos ao lado destas - ainda que não necessariamente nos determine completamente -, parece-me algo inelutável. Discutir se "fatalmente" determina nossos atos e em que medida "o homem é responsável por sua paixão" me parece interessante e válido, mas não reconhecer a onipresença deste "algo" em nós, penso beirar o excesso de inocência filosófica.

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