quarta-feira, 8 de julho de 2015

A insustentável leveza do ser


   Ainda dentro do meu espírito sabático, li A insustentável leveza do ser, de Milan Kundera. Já há muito tempo desejava conhecer esta estória... talvez, a bem da verdade, menos pelo próprio enredo do que pelo instigante título. Por que a leveza seria insustentável? Sempre fiquei com a impressão de que uma alma pesada é que seria ruim. Aliás, o próprio livro comenta os pares de opostos apresentados por Parmênides, e o "pesado" é sempre o negativo, diante do "leve".
   Adorei o livro. Apesar da narrativa ir e vir - do que eu normalmente não gosto -, essas circunvoluções são tão bem feitas que não há como deixar de admirá-las. O pano de fundo, da invasão russa à Tchecoslováquia, após a Primavera de Praga, traz um profundo peso às estórias individuais dos personagens que se entrecruzam.
    Achei também superinteressante o autor "aparecer" no livro vez por outra, falando da própria criação e dando opiniões.
    Minhas considerações críticas sobre o livro certamente são dispensáveis, visto que não sou nenhum literato, mas separei algumas observações que achei interessantes. Seguem algumas.

Sobre fofocas, por exemplo:
"as pessoas se alegravam demais com a humilhação moral alheia para deixar esse prazer ser estragado por uma explicação".

Sobre o idioma alemão:
"Na língua de Kant, mesmo a expressão 'bom dia', devidamente articulada, pode parecer uma tese metafísica. O alemão é uma língua de palavras pesadas".

Sobre a individualidade:
"A unicidade do 'eu' se esconde exatamente no que o ser humano tem de inimaginável. Só podemos imaginar o que é idêntico em todos os seres, o que lhes é comum. O 'eu' individual é o que se distingue do geral, portanto o que não se deixa adivinhar nem calcular antecipadamente, o que precisa ser desvendado, descoberto, conquistado no outro".
   
Sobre a humanidade do homem:
"O verdadeiro teste moral da humanidade (o mais radical, situado num nível tão profundo que escapa a nosso olhar) são as relações com aqueles que estão à nossa mercê: os animais".

Sobre a eutanásia:
"Os cães não têm muitos privilégios sobre o homem, mas um deles é apreciável: para eles, a eutanásia não é proibida por lei; o animal tem direito a uma morte misericordiosa".

No entanto, a mais interessante citação, eu vou deixar para um próximo post. Trata-se de um paralelo com o famoso Problema do Mal, que tanto trabalho dá aos teólogos...

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