sexta-feira, 24 de julho de 2015

Demagogia


   O Dicionário de Política, organizado por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, registra neste vocábulo a seguinte definição:
   "A Demagogia não propriamente uma forma de Governo e não constitui um regime político, é, porém, uma praxe política que se apoia na base das massas, secundando e estimulando suas aspirações irracionais e elementares, desviando-a da sua real e consciente participação ativa na vida política. Este processo desenvolve-se mediante fáceis promessas impossíveis de ser mantidas, que tendem a indicar como os interesses corporativos da massa popular ou da parte mais forte e preponderante dela coincidem fora de toda lógica de bom Governo, com os da comunidade nacional, tomada em seu conjunto.
    [...] Na história das doutrinas políticas se faz necessário remontar a Aristóteles, que primeiro individualizou e definiu a Demagogia indicando-a como aquela prática corrupta ou degenerada da Politeia, pela qual se chega a instituir um governo despótico das classes inferiores ou de muitos que governam em nome da multidão (Política, IV, 5, 1292 a)".
    Em primeiro lugar, sendo sinceros, temos que indicar que o termo a que os autores se referem com sendo aristotélico, "demagogia", não é o que o filósofo grego usa. Ele, em realidade, usa "democracia". Podemos até concordar que, o termo vai ganhando ares diferentes com o passar dos anos, e que o conceito aristotélico, do modo que está registrado, poderia contaminar o entendimento - positivo - atual, com a visão de algo degenerado, como é o caso no Estagirita. Por esse motivo, valeria à pena substituir o "democracia", original, pelo "demagogia", conforme vemos. Que seja... o mais importante, contudo, é perceber como se dá esse tipo de "praxe política".
   Vemos que o que se faz é estimular as "aspirações irracionais" da "massa", "desviando-a da sua real e consciente participação ativa na vida política". O que está dito não é outra coisa que aquilo que Spinoza indica como sendo a manipulação dos afetos passivos, as paixões - no sentido técnico do termo -, diminuindo a capacidade de o ser humano direcionar-se para o que efetivamente lhe faz bem. Os desejos de honra, riquezas e prazeres sensuais tomam a liderança na motivação das ações. Este tipo de homem faz parte do "vulgo", afastando-se do sábio, que escolhe o que verdadeiramente lhe faz bem, e também à sua comunidade, que é uma espécie de macroindivíduo.
   Por último, vale ressaltar como vemos essa prática política grassando em nosso país.

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