segunda-feira, 6 de julho de 2015

Nobreza


   A revista Veja de 1º de julho trouxe uma matéria chamada "Nobreza sem monarquia". Falava dos "nobres" brasileiros que brigam pelo reconhecimento de seus títulos de barão, conde, marquês, etc. e tal, em um órgão lá de Portugal. O processo parece ser bem rígido, e pode ter um custo aproximado de R$ 10 mil. Sinceramente, não me interessei muito pelo assunto, mas passei os olhos pelo texto. Achei um dos entrevistados tão engraçado.
   O conde de Wilson (Eduardo Pellew Wilson) que me perdoe, mas ri com suas opiniões. É verdade que ele só me chamou atenção por um outro dado apresentado: o conde é professor de Filosofia. Vamos, então, ao que nos disse o conde-filósofo sobre uma nobreza que vive como classe média: "Classe social é uma invenção inglesa do século XIX. Para nós, o conceito econômico não tem validade. Ter ou não dinheiro depende das circunstâncias, mas ser nobre é uma situação perene". Até aqui, poderíamos dizer que o conde é um aristotélico que vê uma diferença natural entre os homens... se bem que, para o Estagirita, isso não era caracterizado por títulos nobiliárquicos hereditários. Mas aí vem uma opinião do conde-filósofo sobre sua digníssima esposa, que é sua prima, descendente do médico de imperadores do Brasil (de todos... os dois? Rsss). A matéria informa: "Wilson deixa claro que jamais se casaria com alguém sem 'um fio' de nobreza. 'Para um nobre, o passado familiar é a coisa mais importante do mundo. Eu não sou nada além de uma sucessão do que veio antes. As pessoas de fora não compreendem essa mentalidade'".
   Eu realmente, por não ser nobre, não compreendo bem as opiniões do conde de Wilson. Mas, como filósofo, me preocupo muito com a opinião do professor Wilson.

Um comentário:

Eduardo disse...

Eu não briguei com ninguém, para ser encartado. Apenas fiz prova documental, que é de praxe nessas circunstâncias. No conceito, vago por definição, de classe média, toda a população de um país será classe média. Conceito fraco e muito recente; daí não ser capaz de açambarcar grupos sociais muito antigos, entre eles o grupo dos nobres, que formam uma ordem social bem hierarquizada. Já na classe média, a hierarquia trm sido amplamente comentada assim: classe média alta, classe média média e classe média baixa. Há quem subdivida a classe média alta em classe média alta alta, classe média alta média e classe média alta baixa; classe média média alta, média e baixa, e, por fim, a classe média baixa alta, a classe média baixa média e a classe média baixa baixa... Isso me parece bem engraçado, justamente porque todo mundo acaba sendo mediano. Mas mediano em que mesmo?
Ser é diferente de ter e não se trata de um nobre, em última instância, pelo que ele tem; mas, sim, pelo que ele é, que, aliás, é algo barato financeiramente. Ser nobre tem custo zero. Ter algo implica manter, por exemplo, um carro, que necessita gasolina, manutenção etc. e, quando vira sucata, passa a custar bem pouco, até nada mais valer. É nesse momento que o carro deixa de ser carro e sua existência continua meramente no mundo formal, de Platão, não no ciclo natural da vida, por Aristóteles observado... Minha mulher descente de um médico nomeado do Paço e substituiu o médico da Casa Real e de D. João VI, em 1831. Sim, foi médico dos dois Imperadores e também de seus filhos, pois pegou o fim do Primeiro Reinado e faleceu em 1878, naturalmente no Segundo Reinado. Há vasta biografia do Conselheiro Jobim, homem público e co-fundador da Academia Imperial de Medicina em 1834. Qualquer pessoa interessada tem acesso a tais informações. Sim, é minha prima muitas vezes pelos povoadores da Colônia do Sacramento, pelos antigos habitantes de São Paulo, por antigas famílias portuguesas, incluindo açoreanos sobretudo de origem portuguesa, mas não excluindo flamengos (Silveiras) e franceses (Bethencourts). O Estagirita, que se tem notícia, não deixou obras genealógicas. Ainda que remotamente o tenha feito, certamente não tratou do povoamento de São Paulo nem do dos Açores. Mesmo durante a muito mais antiga unidade nacional portuguesa, o Estagirita não tratou, antes de qualquer argumento, por uma questão temporal... A Filosofia não trata de genealogia nem de nobreza, espevificamente. Nunca cheguei a estudar, por exemplo, qualidade de sangue, que o senhor certamente sabe o que é, graus de parentesco, dispensas e banhos de casamento, patentes oriundas de Livros de Mordomia, enfiteuses e afins no meu curso, que tratava mais de Ética, de Ontologia, de Teoria do Conhecimento etc. Ter, enfim, uma opinião filosófica para a nobreza deve ser algo interessante, mas confesso-lhe que ainda devo me debruçar mais no estudo da Revolução Francesa, por exemplo, cujos muitos artífices eram nobres... e a notícia geral que nos chega tem a ver com a burguesia no poder. Durma-se com um barulho desses, não?