Há alguns dias, o senador Cristovam Buarque publicou no jornal O Globo, um pequeno artigo chamado "Portadores do novo".
No artigo, ele acusava até mesmo as "forças progressistas" de terem um apego ao passado, deixando, portanto, de serem "portadoras do novo". E aí, ele diz o que é "o novo", em vários parágrafos.
Não citarei tudo. Mas há algumas partes de que gostei bastante... embora não tenha a certeza de que "o novo" represente necessidades tão novas assim... nem que algumas das definições sejam tão facilmente realizáveis na prática como o senador insiste em enxergá-las.
Mas, vamos lá:
"O novo está mais no dinamismo decorrente da coesão social, do que na disputa de interesses de grupos, corporações e classes". Sinceramente, diante da questão de que sociedade não é comunidade, ou seja, em vez de um objetivo universalmente comum dos partícipes, desta última, a realidade da primeira envolve sempre uma assimetria de poderes e de desejos, acho inimaginável essa tal "coesão social" sem "disputa de interesses".
"O novo não é mais a proposta da igualdade plena de renda, que, além de demagógica, é autoritária, ineficiente e não respeita o mérito, o empenho e as opções pessoais. O novo está na tolerância com uma desigualdade de renda e no consumo dentro de limites decentes, entre um piso social que elimine a exclusão e um teto ecológico que proteja o equilíbrio ambiental". Concordo com o início - a rejeição à proposta de igualdade plena de renda -, mas discordo da "desigualdade [...] dentro de limites decentes"... embora também concorde com os limites apresentados. Ou seja, minha implicância está com a "decência" dos limites. Eu sempre achei que o que incomoda não é haver pobres e ricos, mas tão somente o fato de haver miseráveis. Ser pobre é ter menos recursos financeiros - é muito mais, mas uma avaliação pragmática imediatista se contenta com este indicador -, mas não é passar fome. Pode ser não ter um tênis caríssimo, mas não é andar descalço. Pode ser não ter a roupa novíssima, da última moda e da marca mais badalada, mas não é passar frio por falta de qualquer roupa. Já o limite maior me parece imposto por outro tipo de consciência, aquela referente à sustentabilidade da satisfação dos nossos desejos e também a um compromisso com as gerações vindouras. Não se deve exaurir a natureza para produzir tudo o que queremos agora, deixando de pensar que outros virão e terão necessidades - e não simplesmente desejos supérfluos - que precisaram ser supridas com recursos que precisamos compartilhar.
"O novo não está na riqueza definida pelo PIB, a renda e o consumo, mas na evolução civilizatória". Concordo plenamente. Até já discuti isso num post referente ao conceito de "desenvolvimento".
"O novo não está mais no excesso de gastos e de consumo, mas na austeridade e bem-estar". Concordo. Penso que o fundamento do Estado não é só a solução de conflitos pela via da não-violência - ou da violência como prerrogativa do próprio Estado -, mas na produção de bem-estar para os partícipes deste mesmo Estado, ou seja, do povo.
"A política nova não está apenas na democracia do voto, mas também no comportamento ético dos políticos, [...] espírito público sem corporativismo". A Política velha também deveria ser assim definida.
"O novo está na educação"... bem como "o velho" também deveria ter estado. Sem ela... ou com ela precarizada, ficaremos sempre dependendo do "novo".