sexta-feira, 28 de julho de 2017

Rousseau colou!?!?


   Acho que Jean Jacques Rousseau "colou" essa ideia de Baruch Spinoza: "Tudo o que parece estender ou fortalecer nossa existência encanta-nos; tudo o que parece destruí-la ou abreviá-la, aflige-nos. Esta é a fonte primitiva de todas as nossas paixões". (Fragmentos filosóficos e morais)
   Sei lá, Rousseau... mas isso tem um espírito spinozano. Parece que se trata do aumento e da diminuição da potência de existir, em função daquelas modificações provocadas pelos afetos, e na busca daquilo que acabamos por considerar bom, pelo desejo daquele aumento, ou na rejeição àquilo que consideramos mau, por aversão àquela diminuição.

Mulato


   Outro dia, conversava com um amigo, e utilizei o termo "mulato". Ele sutilmente me repreendeu, indicando que a palavra era pejorativa. Eu argumentei que, em Biologia, quando se falava da cor da pele, geneticamente se usavam as expressões "negro", "mulato escuro", "mulato claro" e "branco". Portanto, não me parecia algo depreciativo, visto que era um termo científico. Ele insistiu que "mulato" vinha de "mula", indicando uma animalidade/bestialidade do indivíduo assim chamado.
   Fui pesquisar e...
   "Mulato", em Português, realmente tem a ver com a palavra "mula", do latim mulus. A mula é o progênito do cavalo com a jumenta ou do jumento com a égua. Como representa um "híbrido" de duas raças de animais, passou a ser utilizado para a mistura entre um homem branco e uma mulher negra, ou vice-versa.
   Esta perspectiva, do hibridismo ou mistura, parece diminuir a carga pejorativa do termo "mulato". Historicamente, inclusive, a palavra "mula", com esta perspectiva de mescla, não se limita nem mesmo ao animal. Senão vejamos...
   O uso da palavra "mula" para designar uma pessoa mestiça aparece nas Histórias, de Heródoto. Neste escrito é contado que o oráculo de Delfos havia profetizado a Creso, rei da Lídia, que o seu reino duraria até que uma "mula" fosse rei dos medos.  De fato, quando Ciro II, que tinha pai persa e mãe meda, se tornou rei da Média e da Pérsia, o reino de Creso caiu.
   Desta forma, embora meu amigo tivesse razão ao afirmar que "mulato" vem de "mula", isto não significava uma indicação de bestialidade daquele a quem o termo se refere, mas tão somente ao seu status de "mestiço". E, seguindo esta ideia, o termo "mulato" se aplica razoavelmente bem àquela tonalidade de pele intermediária entre o branco e o negro.  

LGBTQI


   Tento ser um cara "antenado", mas a velocidade das modificações é muito grande. Quando eu já estava por dentro do LGBTS, vem o LGBTQI (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queer e intersexo)... e eu acho que falta o S, de "simpatizantes", como na sigla anterior.
   A sigla está na revista Psicologia - grandes temas do conhecimento - especial Sexualidade e Gênero, mais especificamente no artigo "Ideologia de gênero ou educação para a cidadania?", de autoria de Francisca Jocineide da Costa e Silva e Maria Eulina Pessoa de Carvalho.
   O texto é bastante interessante. Vou registrando aos poucos. 
  A primeira coisa que merece destaque é a informação de que "o sexo e o gênero não são binários e fixos. Nascem crianças intersexo, que não podem ser registrados como menino ou menina. Existem pessoas que não se identificam com o sexo de nascimento. [...] E, enfim, a sexualidade não se restringe à reprodução biológica, mas engloba a pluralidade de desejos e prazeres".
   Um registro que vale à pena mencionar, e que o texto cita, é que "os conceitos de gênero e sexualidade ainda não foram assimilados socialmente nem na prática escolar". E a prática escolar é um dos caminhos que facilitará a assimilação social destes conceitos. 
   Em seguida, temos a apresentação dos conceitos de "ideologia" e "gênero".
   O conceito de "ideologia" já é aquele com uma visão crítica. Está lá: "Ideologia é um sistema de ideias que é útil para sustentar relações de poder, mascarar a realidade, podendo ter fundamentos religiosos, políticos e econômicos". E, depois: "Gênero é definido como construção histórica, social, cultural e educacional de características, identidades, posições, papéis, valores e normas para homens e mulheres de acordo com seu sexo biológico". Cita ainda Pierre Bourdieu, quando indica que "[gênero] É o primeiro marcador social, definidor da identidade pessoal e das relações sociais, [correspondendo a] um princípio de visão e divisão social".
   Há ainda a referência histórica de que o conceito de gênero "surgiu no final da década de 1950 [...]. Foi criado pelo médico John Money, do Hospital e Escola de Medicina John Hopkins (Estados Unidos), que assistia crianças intersexo, aquelas que nascem com genitália indefinida. Ele acreditava que, uma vez definido cirurgicamente o sexo, o gênero poderia ser aprendido".
   Depois, conto mais...

Anne Dias


   Anne Dias é uma jornalista que escreve na revista O2. Dizer que ela "escreve" é muito pouco, tal o modo criativamente divertido com que ela registra suas ideias.
   Na revista do bimestre fevereiro-março deste ano, ela produziu o texto "Queniano, que nada! Existem desafios muito maiores do que as sub-2h na maratona". Mais outro texto legal!
   Primeiro, ela traz uma ideia muito interessante em relação àquelas pessoas que ficam colocando suas planilhas de treino em redes sociais, dizendo "Fio, para nós, tanto faz se você faz 10 km em 35 minutos ou em 1h15min. Está tudo certo, principalmente se você está feliz". Show! É lógico que há aqueles que só ficam felizes com a melhora da performance... mas para aqueles que não são atletas, de um modo geral, basta o prazer.
   Até aqui, nada de tão divertido. Mas... a parte seguinte é demais. Ela vai tratar daqueles tipos de pessoas que nos revoltam, quando nos ultrapassam. Obviamente, eu, que tenho 51 anos, não fico espumando quando um rapaz fortão, com seus vinte anos, me passa numa corrida, mas veja os tipos que Anne cita e como os descreve. 
   Em resumo... (Já digito rindo)
   1. A gordelícia: gorduchinha em todo o corpo menos na pança. Tem cintura de violão e está sempre sorrindo porque vive à base de brigadeiro, a melhor fruta que Deus criou. (Essa do brigadeiro é demais!!! Kkkkk....)
   2. Os tiozinhos: De todo o aparato tecnológico do mercado, ele usa apenas a bermuda de tecido leve que o neto deu.
  3. Os fantasiados: Eles te ultrapassam no km 8, porque antes estavam fazendo selfies.
   4. As crianças: nunca vou esquecer uma prova de 10 km em que um menino de 12 anos me passou com folga. Juro, pensei em desistir dessa bobagem que é a corrida. 
   O fechamento é demais... Lá vai...
   "Pergunto: sub-2h em maratona é impossível? Fio,com treino a partir dos 15 anos de idade, 2.500 abdominais por dia, tênis tecnológico, comida controlada e uns fortificantes, você faz. Agora, correr atrás de filho, ficar na cola da gordelícia, virar sombra do tio, acompanhar a Mulher Maravilha, tudo isso só na base da planilha, gluglu iê iê, aí eu quero ver". 
     Kkkkkk...

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Pai


   Meu pai, que faria 95 anos no próximo dia 29 de julho, era um sujeito muito ético... duro até demais com alguns posicionamentos sobre os valores que defendia. Portanto, pela boa memória que tenho dele, nunca o invocaria se eu estivesse no meio de inúmeras falcatruas. Na pior das hipóteses, pediria desculpas a ele, todas as noites, em memória, por estar fazendo o contrário do que ele me ensinou ser o correto. 
   Isso sou eu, porque a revista Veja de 19 de julho, numa matéria cujo título é "O bando dos quatro" - em que trata de Lula, Dilma, José Dirceu e Antonio Palocci - traz uma frase de Dirceu que deve ter deixado o pai dele se revirando no túmulo, caso tenha sido um senhor honesto. Disse o ex-ministro: "Aprendi com meu pai que na vida o mais importante são os valores éticos e os valores morais, e o mais importante é o Brasil" (02 de janeiro de 2003).
   Surgem duas possibilidades: ou ele não aprendeu direito, ou o pai não sabia bem o que "valores éticos e morais" significavam, e, por isso, não pôde ensinar direito.
   De minha parte, vou preferir acreditar que só o filho não era ético o suficiente, tendo deixado de aprender o que o pai lhe passou com tanto cuidado.
   Só por curiosidade, aí vão frases dos outros três políticos.
   "O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes do meu governo" (1º de janeiro de 2003) - Luiz Inácio Lula da Silva.
   "Serei rígida na defesa do interesse público. Não haverá compromisso com o desvio e o malfeito. A corrupção será combatida permanentemente" (1º de janeiro de 2011) - Dilma Rousseff.
   "Trabalhei dentro da mais estrita legalidade, respeitando rigorosamente os padrões éticos que se impõem aos homens públicos" (08 de junho de 2011) - Antonio Palocci.

   Eita...

O novo...


   Há alguns dias, o senador Cristovam Buarque publicou no jornal O Globo, um pequeno artigo chamado "Portadores do novo".
   No artigo, ele acusava até mesmo as "forças progressistas" de terem um apego ao passado, deixando, portanto, de serem "portadoras do novo". E aí, ele diz o que é "o novo", em vários parágrafos.
   Não citarei tudo. Mas há algumas partes de que gostei bastante... embora não tenha a certeza de que "o novo" represente necessidades tão novas assim... nem que algumas das definições sejam tão facilmente realizáveis na prática como o senador insiste em enxergá-las.
   Mas, vamos lá:
   "O novo está mais no dinamismo decorrente da coesão social, do que na disputa de interesses de grupos, corporações e classes". Sinceramente, diante da questão de que sociedade não é comunidade, ou seja, em vez de um objetivo universalmente comum dos partícipes, desta última, a realidade da primeira envolve sempre uma assimetria de poderes e de desejos, acho inimaginável essa tal "coesão social" sem "disputa de interesses".
   "O novo não é mais a proposta da igualdade plena de renda, que, além de demagógica, é autoritária, ineficiente e não respeita o mérito, o empenho e as opções pessoais. O novo está na tolerância com uma desigualdade de renda e no consumo dentro de limites decentes, entre um piso social que elimine a exclusão e um teto ecológico que proteja o equilíbrio ambiental". Concordo com o início - a rejeição à proposta de igualdade plena de renda -, mas discordo da "desigualdade [...] dentro de limites decentes"... embora também concorde com os limites apresentados. Ou seja, minha implicância está com a "decência" dos limites. Eu sempre achei que o que incomoda não é haver pobres e ricos, mas tão somente o fato de haver miseráveis. Ser pobre é ter menos recursos financeiros - é muito mais, mas uma avaliação pragmática imediatista se contenta com este indicador -, mas não é passar fome. Pode ser não ter um tênis caríssimo, mas não é andar descalço. Pode ser não ter a roupa novíssima, da última moda e da marca mais badalada, mas não é passar frio por falta de qualquer roupa. Já o limite maior me parece imposto por outro tipo de consciência, aquela referente à sustentabilidade da satisfação dos nossos desejos e também a um compromisso com as gerações vindouras. Não se deve exaurir a natureza para produzir tudo o que queremos agora, deixando de pensar que outros virão e terão necessidades - e não simplesmente desejos supérfluos - que precisaram ser supridas com recursos que precisamos compartilhar.
   "O novo não está na riqueza definida pelo PIB, a renda e o consumo, mas na evolução civilizatória". Concordo plenamente. Até já discuti isso num post referente ao conceito de "desenvolvimento".
   "O novo não está mais no excesso de gastos e de consumo, mas na austeridade e bem-estar". Concordo. Penso que o fundamento do Estado não é só a solução de conflitos pela via da não-violência - ou da violência como prerrogativa do próprio Estado -, mas na produção de bem-estar para os partícipes deste mesmo Estado, ou seja, do povo.
   "A política nova não está apenas na democracia do voto, mas também no comportamento ético dos políticos, [...] espírito público sem corporativismo". A Política velha também deveria ser assim definida.
   "O novo está na educação"... bem como "o velho" também deveria ter estado. Sem ela... ou com ela precarizada, ficaremos sempre dependendo do "novo".

Mais Bioética


   Historicamente, o termo "Bioética" surge em 1927, com o escrito Bioethics: a review of the ethical relationships of humans to animals and plants, de autoria do pastor, filósofo e educador alemão, Fritz Jahr. 
   Basta ler o título para verificar que a intenção central é tematizar a relação dos humanos com outros seres vivos - o que parece estar bem adequado àquela raiz etimológica grega a que já nos referimos em outro post.
   Porém, o texto considerado o "pai do conceito" é produzido bem mais tarde, em 1971, pelo bioquímico americano Van Rensselaer Potter (1911-2001), cujo título é Bioethics: bridge to the future. 
   A ideia potteriana também tinha um apelo mais global, dizendo respeito aos cuidados necessários com a natureza, por parte do ser humano, em função dos avanços tecnológicos obtidos por este último, mas que demandavam cada vez mais dos recursos naturais, sem uma preocupação com o que haveria de vir no futuro - daí a necessidade de um saber que valorizasse esses cuidados e possibilitasse a chegada efetiva do homem, de modo sustentável, ao futuro.
   Ocorre que, pouco a pouco, o termo "bioética" foi sendo apropriado pela Medicina. O próprio Potter viu a necessidade de desvincular sua ideia inicial daquela em que o termo se viu enredado, e cunhou, então, a expressão "global bioethics" para traduzir aquele conceito que produzira inicialmente.
   Edmund D. Pellegrino (1920-2013), um dos notáveis pioneiros da Bioética nos Estados Unidos, levanta questões que a Bioética terá que enfrentar. A primeira delas é como resolver a diversidade de opiniões sobre o que é Bioética e qual é o seu campo de abrangência temática. A segunda é como relacionar os vários modelos de ética e bioética, uns com os outros. Hoje, estaríamos começando a falar de "bioéticas", no plural.
   Saiamos da parte histórica...

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Cartas de um antagonista


   O título do post é o mesmo do livro de Mario Sabino, um dos produtores do site O Antagonista, juntamente com Diogo Mainard.
   O livro, publicado pela Editora Record em 2016, é uma coletânea de artigos, tanto escritos quando Sabino era correspondente da revista Veja, em Paris, quanto para o site, no período entre o mês imediatamente anterior ao afastamento de Dilma até o seu impeachment. 
   São textos breves e fáceis de ler. A maioria deles com bastante conteúdo político... uns mais interessantes, outros menos.
   Antes de citar algumas passagens de que gostei, queria fazer uma correção à informação do autor, logo no começo do livro. Ele escreve que Fernando Henrique Cardoso, numa entrevista concedida a Sabino, discorreu sobre a "ética da convicção" e a "ética da responsabilidade". E emenda "FHC lançou mão desses conceitos do filósofo alemão Immanuel Kant"... Opaaa... Kant? Até onde eu sei, esses conceitos são elaborados por Max Weber. 
    Vamos lá, agora.
   "o PT tentou ulcerar a democracia para conquistar votos através da distribuição de migalhas a pobres desassistidos eternizados como pobres assistidos". Nem me refiro especificamente ao que ele diz ser a ação do PT, mas achei bem inteligente a ideia falar nesta transformação de "pobres desassistidos eternizados como pobres assistidos". 
    "a imagem do Brasil será indelevelmente a de uma república das bananas. É o que somos. [...] O Brasil é bananeiro na vulgaridade do Congresso Nacional. O Brasil é bananeiro na rapacidade de seus partidos. [...] O Brasil é bananeiro na caipirice de seus cidadãos. O Brasil é bananeiro na emotividade despudorada de lulistas e antilulistas. O Brasil é bananeiro na precariedade das suas cidades. O Brasil é bananeiro na mediocridade das suas universidades. O Brasil é bananeiro na indigência de sua cultura. Os modernistas tentaram transformar os nossos defeitos de república das bananas em qualidades maravilhosas que nos diferenciavam de todos os outros povos". Que porraaaada no nosso Brasil, hein! Pegou pesado demais! Se bem que... não há como negar que ele acerta em alguns diagnósticos. Gostei muuuuuito da questão da "emotividade despudorada de lulistas e antilulistas", que vivem se "matando" enquanto os políticos profissionais fazem teatro e só se preocupam em salvar as próprias peles.
   "a política deve entrar no rol das suas preocupações cotidianas, porque quase todas elas são... política!
      A calçada esburacada é política; a falta de iluminação é política; o rio sujo é política; a mensalidade exorbitante da escola do seu filho é política; os reajustes abusivos dos planos de saúde são política; a falta de emprego é política; a ciclovia que foi tragada por uma onda é política.
    O impeachment de Dilma Rousseff não pode ser apenas uma catarse. Tem de ser um ponto de inflexão no nosso atávico desinteresse pela política.
    Política não é o fim, mas o começo". Bela reflexão para todos nós.
   Depois escrevo mais...
    

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Spinoza na Folha


   Vladimir Safatle, colunista da Folha de S. Paulo, escreveu o artigo "Existem realmente paixões tristes?", em 23/06/17. O título logo chamou minha atenção, por lembrar a teoria dos afetos de Spinoza. Mas não achei que se tratasse desse assunto. Só que era!?!? Legal!
   Vamos, então, ao que o filósofo Safatle escreveu. 
   Diz ele que algumas dicotomias atravessam o tempo, sendo uma destas a que diz respeito às paixões tristes e paixões alegres, do filósofo holandês. 
   Tecnicamente, há um pequeno problema no texto, quando Safatle fala de a liberdade estar ligada "à força afirmativa das paixões alegres" - já que sabemos que são os afetos ativos, e não os passivos (paixões), que garantiriam a liberdade. Mas isto é plenamente desculpável, pois, como indica o próprio Safatle, ele não quer "fazer o exercício infame e sem sentido de discutir a teoria spinozista dos afetos e sua bela complexidade em uma coluna de jornal". Basta, para uma aproximação geral, dizer que por "paixões tristes e alegres", Safatle entende "tristeza e alegria".
   Safatle indica que "gostaria de sublinhar inicialmente a importância desse entendimento de que a capacidade crítica está ligada diretamente a uma compreensão dos afetos e de seus circuitos". 
   Considerando apenas aquela ideia geral de "tristeza e alegria", que coloquei, Safatle explica que "paixões tristes diminuem nossa potência de agir, [e] paixões alegres aumentam nossa potência de agir e nossa força para existir".
   Em sua análise, Safatle explica que, com a tentativa de negar a existência dicotômica das paixões, o homem acaba por esperar emudecer as paixões tristes, numa "luta desesperada em apegar-se compulsivamente a uma afirmação cristalina e sem sombras".
   O caminho que Safatle percorre, dizendo que esta luta "corre o risco de acabar por alimentar a visão capitalista da felicidade como conformação estoica ao que acontece", não me parece o melhor. A filosofia estoica propõe algo mais profundo do que a simples "conformação ao que acontece", embora haja uma dimensão de reconhecimento do sábio quanto à imutabilidade de certas situações. Mas há um exercício ativo constante para a conquista da sabedoria e da felicidade.
   Eu diria que valeu à pena ver Spinoza frequentar a Folha de S. Paulo, mas que o desdobramento de seu pensamento ficou um pouco "truncado".

Revolução e Preguiça


   Não que eu concorde integralmente, mas achei interessante uma ideia do pai do Conservadorismo, o pensador irlandês Edmund Burke (1729-1797), quando ele se refere à ação revolucionária obedecer à preguiça de quem é incapaz de pacientemente estudar e reformar a comunidade real, optando por atalhos e pelas facilidades falaciosas da destruição e da recriação totais.

Pretorianismo


   Por esses dias, li no jornal que parte dos apoiadores do ex-presidente Lula às eleições de 2018 estava preocupada com algo inesperado à primeira vista: um possível crescimento da candidatura de Jair Bolsonaro no Nordeste, reduto eleitoral reconhecidamente lulista.
  Os simpatizantes de Lula achavam que a, sempre citada em pesquisas de opinião, confiança nos militares, aliada à proximidade de Bolsonaro com estes atores sociais, poderia acabar por angariar simpatia e votos ao candidato capitão da reserva do Exército brasileiro.
   Se isso é verdade, eu não tenho certeza. Mas lembrei desse fato quando lia a definição do "pretorianismo", em Política - 50 conceitos fundamentais explicados de forma clara e rápida, cujo editor é Steven L. Taylor, publicado pela Publifolha.
   Lá está:
  "Pretorianismo geralmente se refere ao governo dos militares, mas também pode significar uma forte influência deles na política. [...] O fenômeno está claramente associado a compromissos débeis das elites com a democracia, a instituições políticas frágeis, a polarização ideológica, a laços da elite política com a os líderes militares e a uma sensação generalizada de que os militares têm legitimidade para governar. O papel dominantes dos militares vai aos poucos se enraizando, e eles passam a ser atores políticos fundamentais, em particular nos períodos de crise política ou econômica". (Grifos meus)
   Diante do exposto, apesar de não acreditar mais numa participação direta dos militares na condução do país, não dá para deixar de considerar a hipótese dos apoiadores de Lula de que os integrantes das Forças Armadas poderiam reforçar a candidatura de Bolsonaro, ainda que indiretamente, pela confiança depositada nestas instituições.
   Mas ainda há muita água para rolar na Política do Brasil até as eleições de 2018.

A condenação de Lula


   Impossível deixar de registrar a primeira condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 12 de julho de 2017. Afinal de contas, "Nunca antes na História deste país..." um ex-presidente havia sido condenado - parafraseando o próprio Lula. É de estranhar, contudo, que com tantos problemas nas gestões do ex-presidente - mensalão e petrolão já comprovados, por exemplo -, Luiz Inácio da Silva tenha sido condenado por ocultar um tríplex "Minha casa, minha vida" - como ele mesmo disse - e um sítio em Atibaia.
   A curiosidade faz com entremos mais no caso para perceber que os dois imóveis faziam parte de uma dívida de R$ 16 milhões da OAS com o PT, por conta da vitória no contrato para construção da Refinaria Abreu Lima, em Pernambuco. Pelas contas apresentadas no processo, os dois imóveis, com suas respectivas benfeitorias, corresponderiam a R$ 2,2 milhões daquele total. 
   A bem da verdade, portanto, a condenação de nove anos e meio não se refere à ocultação de patrimônio, mas à corrupção passiva (seis anos) e à lavagem de dinheiro (três anos e meio). 
  Lula é réu em mais quatro outros processos. Vamos ver o que ainda há de vir por aí...

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Olga Benario (3)


   Ao final do livro, há parte da correspondência de Olga. Realmente o que transparece é um profundo amor entre Olga e Prestes.
   Numa das cartas, por exemplo, ela escreve ao marido:
   "Querido, tua mãe me enviou tua fotografia. Agora passo muito tempo com a pequena no colo te contemplando e meus pensamentos ficam então contigo. Agora faz um ano que nos separamos. Mas, sabes, todo este tempo difícil trouxe como resultado apenas o fortalecimento de meus sentimentos em relação a ti. Vou encontrar forças para aguardar o feliz dia em que novamente estaremos juntos".
   Infelizmente, para o casal, como bem sabemos, o dia do reencontro nunca chegou.
   Uma outra coisa que me chamou atenção foi a intenção de Olga de participar da educação da filha, mesmo a distância. Numa carta de 1939, escrita a Prestes, ela diz:
   "Mas, sabes, Carlos, tens de me ajudar com minha mãe [Olga se referia à mãe de Prestes como sua própria mãe] para que eu também tenha voz ativa sobre Anita".
   E em outra, de 1940, também dirigida ao marido, escreve:
   "No que se refere à sua [de Anita] educação, peço-te que tenhas voz de poder com mamãe. Nossos muitos e queridos tios e tias parecem querer compensar a falta dos pais de Anita com mimos exagerados. [...] Mas nada é mais prejudicial do que passar à criança a sensação de ser algo especial. Isso lhe tornará a vida mais difícil no futuro. [...] [N]ossa filha não deve se tornar uma bonequinha mimada!".
   A opinião sobre não "passar à criança a sensação de ser algo especial" pode ser controversa para os pais mais contemporâneos... mas não me parece incorreta de todo. 
   

Olga Benario (2)


  Terminei de ler o livro sobre Olga Benario. Muito legal. 
  Queria comentar uma passagem assustadora, sobre o extermínio dos judeus.
  Conta o livro:
  "Os nazistas mostravam-se extremamente ciosos de manter o extermínio em massa de prisioneiros em segredo. Na secretaria do campo de concentração de Ravensbrück, registrava-se uma doença inventada como causa de morte de cada mulher entre milhares que haviam sido assassinadas em Bernburg. Segundo Sarah Helm: O local da morte era sempre Ravensbrück. A data variava, mas era sempre no futuro - por outras palavras, várias semanas depois de as mulheres serem levadas [...]. Eram as próprias prisioneiras que trabalhavam na Secretaria que preenchiam o espaço destinado à causa da morte [...]. O pessoal andava ocupado há semanas a escrever as certidões de óbito. Havia quatro razões diferentes para a morte: problemas de coração; pulmões infectados; problemas de circulação ou poderia também escrever-se: 'Todos os esforços médicos para salvar a pessoa foram em vão'. As prisioneiras que tinham que preencher as certidões podiam escolher a seu gosto a doença dada como a causa de morte da mulher em questão".
   Imaginem ter que inventar um motivo falso para a morte de alguém que poderia ter sido amiga daquela que preenchia a certidão de óbito... principalmente sabendo que aquilo seria para encobrir uma violência terrível.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Esquerda e conservadorismo


   Aqui no Brasil, temos nos acostumado com uma esquerda alinhada às liberdades sociais. Um dos partidos que mais mobilizam os jovens, o PSOL, tem parlamentares declaradamente favoráveis à liberação da maconha e à luta contra a discriminação aos gays. Plataformas que realmente precisam estar presentes numa discussão da sociedade real em que vivemos. 
   Esta esquerda acusa a direita de conservadorismo. Ou seja, no terreno do "social", os liberais são os "de esquerda", enquanto os conservadores são os "de direita".
   Pois bem... Anunciou-se ontem que o Teatro Bolshoi adiou para o ano que vem a peça, que seria lançada na próxima semana, sobre o bailarino russo Rudolf Nureyev (1938-1993). Embora a justificativa oficial diga respeito à baixa qualidade da montagem, em virtude de os bailarinos ainda não estarem preparados, suspeita-se que o real motivo seja a temática da peça, que envolve a homossexualidade de Nureyev.
    O jornal O Globo, em uma matéria sobre o assunto, explica que existe uma lei anti-gay que veta propagandas "que incentivem relações não tradicionais a menores de idade" e cita, também, um "crescente conservadorismo social russo".
   O que os militantes do PSOL diriam disso, hein? Isso, eu não sei. Mas é interessante pensar bem sobre esses conceitos de "esquerda" e "direita".


terça-feira, 11 de julho de 2017

Ainda a Bioética


   No dia 09 deste mês, Hélio Schwartsman escreveu o texto "Desolação", em que tratava do tema Bioética, através do caso do bebê Charlie Gard.
   Para quem não lembra, Charlie tem onze meses e está internado num hospital inglês, com uma doença rara. Os médicos acharam que prolongar a vida do bebê artificialmente não valia mais à pena, mas os pais não concordaram. O caso foi parar na Justiça, que determinou o desligamento dos aparelhos. Contudo, os pais insistem em levar a criança para o exterior e tentar um tratamento experimental. Impasse...
    Schwartsman começa por dizer algo interessante: "A bioética [...] é a mais depressiva das especialidades filosóficas. Seus manuais são uma coleção de situações médicas trágicas que geram dilemas sem solução".
   Prossegue, avaliando que "Os médicos e as cortes estão certos ao definir que esforços terapêuticos precisam parar em algum ponto. Não dá para insistir em tratamentos fúteis. Por cruel que seja dizê-lo, é preciso pensar também em custos".
   Parece que o caso nem envolve custos para o governo inglês, visto que os pais arcariam com os custos do transporte do menino. Mas, segundo matéria do jornal O Globo: "Nesse caso, a Justiça baseia sua decisão, diz o NHS [Sistema de Saúde Público Inglês], no que é melhor para Charlie. Por isso, mesmo que os pais queiram custear a viagem aos Estados Unidos com o dinheiro arrecado, eles não têm autonomia para isso, uma vez que a Justiça determinou que o tratamento não trará benefícios ao bebê".
   Se não existe custo para o Estado e os pais desejam realizar o tratamento em outro local, onde ele é possível, concordo com a avaliação de Schwarstan, quando este comenta: "Se existe um princípio heurístico na sempre triste bioética, é o de que o respeito à autonomia do paciente e seus familiares é quase sempre a resposta menos ruim".
      

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Olga Benario


   O filme Olga, de 2004, com a bela Camila Morgado, me impressionou bastante. Nem sei por que não li o livro depois de tê-lo visto. De qualquer modo, nunca é tarde para corrigir um engano. Rsss.
    Foi lançado este ano o livro Olga Benario Prestes: uma comunista nos arquivos da Gestapo, pela Editora Boitempo, de autoria da filha da própria Olga, Anita Leocadia Prestes. Não resisti e, hoje, comprei o livro.
    Um dos fatos mais interessantes a respeito do texto é que ele inclui informações dos arquivos da Gestapo que só começaram a ser disponibilizadas para consulta pública a partir de 2015.
   Li muito pouco. Primeiro, a história da própria Olga até o encontro com Luiz Carlos Prestes, em 1934. Depois, a vinda dos dois para o Brasil, em 1935. E, por fim, a deportação dela para a Alemanha nazista, já grávida, e o nascimento de Anita Leocadia, em 1936.
   Por enquanto, queria registrar apenas uma observação do editor da correspondência de Olga e Prestes, sobre o tempo relativamente curto de relacionamento dos dois. Diz Robert Cohen:
   "Desde seu primeiro encontro em Moscou até sua prisão no Rio se passaram exatos um ano, três meses e vinte e dois dias. Pouco tempo, se diria. Mas qual seria o tempo ideal para o amor? A importância de uma relação não se mede por sua duração. Se quisermos saber alguma coisa sobre o amor entre duas pessoas, não devemos indagar o que as pessoas fazem do amor, mas sim o que o amor faz das pessoas. O que o amor fez de Olga Benario e Carlos Prestes descobrimos em suas cartas". 
   Depois, conto mais...

Óptica e ideologia


   Um torcedor do Fluminense entra com sua bandeira tricolor (verde, branca e vermelha), todo feliz, num ambiente iluminado por uma luz vermelha. Lá dentro, volta a olhar para o pavilhão tricolor e se assusta. Ele percebe que vinha carregando um pano com as cores do seu arquirrival, o Flamengo. Desesperado, rasga aquele pano em preto e vermelho. Aborrecido, deixa o tal ambiente em que entrara, e se vê com sua bandeira tricolor em farrapos. Agora triste, não entende o que aconteceu.
   É lógico que quem lembrou das aulas de óptica do segundo grau, entendeu o fato. O branco reflete todas as cores, e, neste caso, é visto como vermelho. O vermelho reflete o vermelho, sendo visto também como vermelho. O verde não reflete o vermelho, sendo percebido como preto. Conclusão, a bandeira tricolor original é percebida, no ambiente com luz monocromática vermelha, como uma bandeira rubro-negra.
  A brincadeira óptica serve de pano de fundo para uma reflexão nossa sobre a ideologia.
  Quando estamos mergulhados em uma ideologia - e sempre estamos -, mas não conseguimos o mínimo afastamento crítico do que percebemos, acabamos fazendo discursos que beiram o ridículo - como no caso do dono da bandeira, que rasgou seu tão amado objeto. 
   Não deve ser verdade que tudo o que os governos de Lula e Dilma fizeram foi péssimo. Como também não deve ser verdade que tudo o que fizeram foi ótimo. Deve-se elogiar o que acertaram e censurar o que erraram. Quando se é um político profissional, que precisa do apoio do partido para "existir", eu até entendo que a defesa de tudo - quando se é da base de apoio - ou o ataque a tudo - quando se é da oposição - pode fazer um mínimo sentido. Mas quando somos meros participantes "amadores" da Política, ainda que tenhamos nossas preferências ideológicas, o bom senso tem que dizer "Presente!" com mais força.
   Vemos a situação lastimável do governo atual, enredado em acusações complicadas, que, pelo menos num primeiro momento, parecem incontornáveis. Para livrar-se delas, escutamos desculpas pouco convincentes, com ares burlescos. Este é um fato. Mas tão risíveis quando as ponderações dos primeiros são as observações feitas por aqueles que foram defenestrados do poder pelo acusado de agora, quando se percebe que os atos deste só significariam uma continuidade dos daqueles.
   Como alguém que vive a Política e reflete sobre ela, gostaria de algo muito simples: o expurgo de todos aqueles que agiram mal. O "todos", neste caso, significando tanto aqueles que se alinham com as minhas ideologias políticas, quanto aqueles que a ela se opõem.
   A questão ideológica, neste caso, não pode superar a questão ética e mesmo cívica. 
   

domingo, 2 de julho de 2017

O que é Bioética?


   Tenho me interessado por este tema nos últimos tempos. Minha ênfase em Filosofia é em Ética. Mas isso, nem de longe, me torna um especialista em Bioética. Aliás, até então, eu poderia dizer que tinha pouca intimidade com o tema.
   Como sabemos, a Ética, como área da Filosofia, se divide fundamentalmente em metaética, ética normativa e ética aplicada. Meu foco sempre foi a ética normativa, que, aliás, é aquilo que se conhece mais como "ética" lato sensu, ou seja, a Filosofia Moral. 
   Dentro da ética aplicada temos aquelas situações mais práticas, ligadas mais diretamente às nossas experiências morais na vida quotidiana. Justamente dentre os saberes listados na ética aplicada é que aparece a Bioética.
   Se pensarmos na Bioética ligada a assuntos médicos, não estaremos errados, mas este conceito tem se modificado desde o seu surgimento... e, até hoje, parece comportar algumas perspectivas diferentes.
    Só para começarmos a pensar, valendo-nos mais do senso comum, dá para imaginar que "Bioética" (bios + ethike) seria algo como um "comportamento correto no lidar com os seres vivos".
    Mas depois a gente conversa mais...

Alemanha campeã


   A seleção de futebol da Alemanha foi campeã, hoje, da Copa das Confederações. Era uma seleção formada por jogadores menos consagrados do que aqueles campeões mundias de 2014. E ainda pegou a seleção chilena, bicampeã da Copa América, jogando muito bem organizada e ameaçando muito. Mas os alemães foram cirúrgicos, e mataram o jogo quando tiveram oportunidade.
   Contudo, nem é tanto sobre o próprio jogo de que quero falar, mas de uma inovação apresentada nesta copa: a utilização de auxiliares vendo os jogos em monitores, com a possibilidade de avisar ao árbitro de campo sobre lances polêmicos.
    Bem interessante esta novidade. Pelo menos alguns dos erros bisonhos e desastrosos que acompanhamos todos os dias serão evitados. 
   Parabéns à Alemanha... e também à Fifa.

Ainda sobre a Lava Jato (2)


   Na mesma linha da preocupação que apresentei, o sociólogo Bernardo Sorj parece ter se manifestado em O Globo, há já alguns dias. Em seu texto, ele diz:
  "Durante os últimos dois anos, os brasileiros acompanham, embasbacados, uma novela [...]. Mocinhos pertencentes ao Poder Judiciário, ao Ministério Público e à Polícia Federal desmascaram políticos e empresários corruptos [...]. Acontece que a trama se complicou. Os mocinhos fizeram um serviço aplaudido por todos, mas no caminho foram destruindo possíveis saídas para a trama. [...] É necessária a entrada em cena de um novo ator, que indique a saída. Caso contrário, no lugar de uma novela brasileira, teremos um filme de Tarantino no qual todos se matam".
   Uma solução apresentada pelo autor é a criação de uma frente política, formada por políticos comprometidos com o bem público, que realizem as reformas necessárias.
   O problema é que esses tais "políticos comprometidos com o bem público", pelo menos hoje, não têm força para capitanear modificação alguma do status quo.
   Parece que, em algum momento, o pragmatismo dará um freio na Lava Jato, com os próprios operadores da mesma concluindo que será melhor algum governo, com alguns corruptos, do que nenhum governo, com nenhum corrupto. 
    

Ainda sobre a Lava Jato


   Obviamente, não há quem seja contra a operação Lava Jato continuar derrubando, um atrás do outro, como naquela brincadeira com pedras de dominó, os políticos corruptos e seus esquemas de obtenção e lavagem de dinheiro ilícito... a não ser os envolvidos nessas falcatruas.
   A questão é saber se, no mundo político atual, que se constrói, organiza e vive fundamentalmente desse modo de operar, é possível ir tão fundo assim.
   Ficou claro, infelizmente, que Sérgio Cabral, bem como outros nomes citados, não é a "corrupção" personificada. Ele, que realmente parece ter errado a mão nos seus malfeitos, é mais uma peça do sistema corrompido que impera no meio político - e naquele que o financia.
   Aí, resta a seguinte reflexão: Retirado Temer; assume Rodrigo Maia e convoca eleições indiretas. Os eleitores serão, pelo menos alguns deles, senhores desconfortavelmente citados na Lava Jato - além de outros que só não foram citados AINDA... e, espero, de alguns tantos desembaraçados dessas teias da falta de ética. 
   Uma pergunta: será que aqueles senhores deputados envolvidos em "esquemas" desejarão realmente escolher um presidente honestíssimo, que possa incentivar e acelerar as investigações e punições contra os culpados? Uhmmmm.... sei não...

Assim fica feio...


   O Painel, do site da Folha de S. Paulo, divulgou a seguinte notícia:
   "Os advogados de Michel Temer (PMDB), Dilma Rousseff (PT), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Aécio Neves (PSDB) articulam o lançamento de um manifesto para questionar a atuação da Justiça e do Ministério Público".
   Eu, sinceramente, não sei o que é pior: ver o pessoal que foi retirado do governo por crimes de responsabilidade, mas que agora é citado como tendo cometido crimes comuns, mostrando verdadeiro asco por quem o retirou, e que é citado nas mesmas delações por crimes semelhantes; OU todos que fizeram coisas erradas se reunindo contra um inimigo comum deles, mas não do povo, para tentar criar um fato novo que possa barrar a faxina que se desenvolve.
   Só aguardando para ver no que vai dar...

Solidariedade?


   Ingrid Guimarães contou, outro dia, em seu Facebook:
   "Postei um vídeo pra Bela Gil tentando fazer um leite de amêndoas e me enrolei com o liquidificador. No dia seguinte, ganhei um liquidificador novo da marca que me atolei. Falei no Papo de Segunda que vivia pagando calcinha e uma marca me ofereceu várias calcinhas lindas (...) Disse que queria voltar a malhar e recebi várias roupas de malhação como incentivo. Mas quando peço ajuda pra ONG, trabalho social ou peça de alguém, ninguém liga. Nascemos humanos e vivemos produtos. Humanos não rendem likes".
   Apesar de não desejar, sou forçado a concordar com ela. Solidariedade, para muitos, só se render algum lucro comercial. Que coisa, hein...