quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Boas festas


   Embora o Natal já tenha passado, desejo a todos que leem o blog, um feliz 2019, cheio de saúde, paz e alegrias.

Assim, eu desisto...


   Marx é incontornável para qualquer um que queira tratar de Sociologia e Política... aliás, de Ciências Humanas em geral. Então, temos sempre que voltar às suas ideias - ou àquelas que foram atribuídas a ele. Dito isto... estava eu a ler Arqueomarxismo - comentários sobre o pensamento socialista, de Alvaro Bianchi, publicado pela Alameda Casa Editorial - mais especificamente o artigo "Lenin como filósofo" -, quando me deparei com a seguinte nota: 
   "Vale lembrar o famoso aforismo formulado por Lenin no Conspecto do Livro de Hegel Ciência da Lógica: 'Não é possível compreender plenamente o Capital de Marx e particularmente o seu capítulo I sem ter estudado A FUNDO e sem ter compreendido TODA a Lógica de Hegel. Por conseguinte, meio século depois nenhum marxista compreendeu Marx!!'" (Grifo nosso)

   Assim, desisto de compreender Marx... afinal, estudar Hegel a fundo e compreender toda a sua lógica está além da minha capacidade intelectual. Lembrando que A Fenomenologia do Espírito diminuiu meu CR (coeficiente de rendimento) na graduação de Filosofia. Rssss.
   É brincadeira. Continuarei tentando. 

Dica no YouTube


   Quem gosta de História, fica aqui uma dica super legal - pelo menos, eu achei - no YouTube: o canal LeituraObrigaHistória.
   Segue o link: https://www.youtube.com/channel/UCtMjnvODdK1Gwy8psW3dzrg
   Há vários vídeos explicativos interessantes, com sugestões de leituras, inclusive. Aliás, há também resenhas de livros.
   O coordenador do canal é o historiador Icles Rodrigues.
   Parabéns, a ele, pela iniciativa. Quem quiser conferir, acho que vale a pena.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

O Fluminense tem que pagar a Série B? (2)


   Continuando...
  Enquanto o Fluminense jogava a Série C, ocorria um problema, que ficou conhecido como "Caso Sandro Hiroshi", na Série A. 
  Em resumo, o jogador Sandro Hiroshi ficou com seu passe bloqueado, por decisão da CBF, em virtude de uma possível transferência sem autorização do seu clube de origem para o São Paulo (SP). Logo na terceira rodada da Série A, o Botafogo (RJ) foi goleado pelo São Paulo e alegou que o jogador Sandro Hiroshi atuou irregularmente. 
   A coisa foi ficando mais confusa quando outros times se sentiram prejudicados por perderem pontos para o São Paulo. Ao fim e ao cabo, o Gama (DF) foi empurrado para a Série B, sem ter caído caso os resultados não fossem modificados. Resolveu, então, entrar na Justiça comum contra a CBF, que ficou impedida de organizar o Campeonato Brasileiro de Futebol de 2000.
   E o que o Fluminense teve mesmo a ver com isso???? Nada, obviamente.
   Conclusão da história: para haver campeonato, ele não poderia ser organizado pela CBF. Assim foi que o Clube dos 13 tomou para si esta tarefa, tendo a complexa tarefa de agradar gregos e troianos. O que fez, então? Reuniu as Séries A, B e C num campeonato com 116 clubes. 
   Se a intenção fosse apenas beneficiar o Fluminense, seria suficiente incluir apenas as Séries A e B, visto que o tricolor alcançara o direito ao acesso para o ano de 2000.

O Fluminense tem que pagar a Série B?


   Vez por outra, algum amigo, provocativamente, alega que meu querido Fluminense, através de manobras jurídicas, deixou de jogar a Série B do Campeonato Brasileiro de Futebol, tendo passado da Série C diretamente para a Série A. 
   Eu sei que torcedores são movidos por paixões, e que a brincadeira é mais importante que os fatos. Então, nem me incomodo tanto. Mas... eis que, sábado passado, no Jornal do Brasil, o jornalista esportivo Renato Maurício Prado, escreveu algo na mesma linha. Ora, como jornalista, ele deveria ter mais cuidado em contar a história, do jeito que ela ocorreu - ainda que haja motivações ocultas para a produção de alguns eventos, que possam ser esclarecidas.
    Vamos lembrar os fatos, então.
    Em 1996, o Fluminense joga mal a Série A do campeonato e acaba por ficar entre aqueles que deveriam ser rebaixados para a Série B. Esse é um fato. Mas... antes de o Campeonato Brasileiro de 1997, foram divulgadas gravações que mostravam que a Comissão Nacional de Arbitragem de Futebol estava envolvida em caso de manipulação de resultados. Foi o chamado Caso Ivens Mendes. 
   Diante da confusão, que foi parar até na Justiça comum, cancelaram-se os rebaixamentos de Fluminense e Bragantino. A Série A do ano seguinte teria, então, estes dois clubes, mais os dois que subiram da Série B, totalizando 26 times.
     No ano seguinte, 1997, o Fluminense jogou a Série A - pessimamente -, ficando entre os quatro últimos colocados e, portanto, caiu. Desta vez, não havendo nenhuma irregularidade na disputa, o Fluminense foi rebaixado e efetivamente jogou a Série B em 1998.
         Nova campanha pífia na Série B e... queda para a Série C. Novamente, não havendo questão jurídica a resolver, o Fluminense jogou a Série C, em 1999, sagrando-se campeão. Tudo preparado, portanto, para disputar a Série B, em 2000.
     Aí... surge nova confusão...
    Assunto para o próximo post.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Tulipa... ou não?


    É usual, nos bares aqui do Rio de Janeiro, pedirmos uma caneca ou uma "tulipa" de chopp. Mas, no caso de escolhermos a última, estaremos pedindo a coisa certa? Acho que não...
 Consultando o Blog do Cervejeiro Virtual (https://blogcervejariavirtual.com/), obteremos as seguintes imagens:
   Copo 1Copo 2Copo 6
  
   A tulipa verdadeira é a última à direita, embora aquela a que estejamos acostumados a chamar por este nome seja a do meio.
   Vejamos as explicações do blog, referentes às imagens, da esquerda para a direita.

  Copo Pilsner: este copo é destinado para as cervejas Pilsen, já que possibilita uma boa formação de espuma e direciona o aroma do lúpulo para o nariz. 
  Copo Lager (chope): é o copo mais utilizado no Brasil, indicado para as cervejas do tipo Lager ou chopes. Ao contrário do que muitos pensam, este copo não é o mesmo utilizado para cervejas Pilsen.
   Tulipa: recomendado para cervejas com espuma densa, como a Duvel e outras Strong Ales belgas, já que também permite uma boa expansão do creme.

   Eu irei continuar pedindo uma "tulipa" de chopp no bar, mas... vale a pena saber qual é o correto.

sábado, 8 de dezembro de 2018

A metáfora do orçamento doméstico


   No mesmo O ódio como política, organizado por Esther Solano Gallego, publicado pela Boitempo, do post anterior, há o artigo "O discurso econômico da austeridade e os interesses velados", de Pedro Rossi e Esther Dweck. Particularmente, achei este e o já citado no post anterior os melhores artigos do livro. Mas há várias boas ideias sendo discutidas. Uma leitura técnica encontra muitas informações e argumentos de valor.
   Mas, vamos ao que interessa. 
   Eu sempre usei, em meus discursos sobre a necessidade de corte de gastos, a "metáfora do orçamento doméstico". Fundamentalmente, aquele velho blá-blá-blá de que só se pode gastar o que se ganha. Há outros aspectos, também, como, por exemplo, o endividamento só ser plausível quando se vai investir na aquisição de patrimônio. De qualquer modo, o ponto chave é esse equilíbrio entre receitas e despesas ter que cessar e o ajuste ter que recair, sempre, no lado dos gastos, visto que, como no orçamento familiar, as receitas terem mais dificuldades de sofrerem modificações, visto que o "salário" é aquele mesmo.
   Assumo meu erro - e até minha ingenuidade, diante da fragilidade deste argumento -, principalmente após a leitura de Rossi e Dweck. Eles explicam que "essa comparação entre o orçamento público e o familiar não é apenas parcial e simplificadora, mas essencialmente equivocada". E indicam que são três fatores que justificam esta afirmação deles. Acompanhemos:
   1) "o governo, diferentemente das famílias, tem a capacidade de definir seu orçamento. A arrecadação de impostos decorre de uma decisão política e está ao alcance do governo, por exemplo, tributar pessoas ricas ou importações de bens de luxo, para não fechar hospitais. Ou seja, enquanto uma família não pode definir o salário que recebe, o orçamento público decorre de uma decisão coletiva sobre quem paga e que recebe, quanto paga e quanto recebe";
   2) "quando o governo gasta, parte dessa renda retorna sob a forma de impostos. Ou seja, ao acelerar o crescimento econômico com políticas de estímulo, o governo está aumentando também a sua receita"; e
   3)   "as famílias não emitem moeda, não têm capacidade de emitir títulos em sua própria moeda e não definem a taxa de juros das dívidas que pagam. Já o governo faz tudo isso".

   Há pontos a discutir, certamente. No primeiro item, poder-se-ia argumentar que a família também pode, ainda que limitadamente, aumentar sua receita. Já no terceiro item, alguém apontaria que as famílias também podem se endividar com algum controle das taxas de juros pagas, através de uma pesquisa junto às instituições financeiras. De qualquer modo, não há como fazer uma analogia - que sempre tem limitações - entre o orçamento público e o familiar, como eles pudessem ser simetricamente comparados. Isso é o mais importante na questão, mostrando que se exige cuidado para não comprar um argumento falacioso como se verdadeiro fosse.

Isso é direita ou esquerda?


   Meu trabalho de fim de curso na pós de Ciência Política tinha por título "O esvaziamento conceitual da díade direita-esquerda no campo da ideologia política". Na verdade, eu não advogava em favor do esvaziamento, mas diagnosticava a possibilidade desse evento. 
   Uma de minhas teses era de que as variações históricas envolvidas nas definições que diziam respeito aos conceitos de direita e esquerda causavam certa confusão em quem os usava. Além disso, ao se assumir o campo dos costumes como definidor das características do que vem a ser direita e esquerda num espectro político, causou-se um pouco mais de confusão.
   Pois bem, lendo o artigo de Luís Felipe Miguel, "A reemergência da direita brasileira", publicado em O ódio como política, me deparei com uma explicação do que vinha a ser "Libertarianismo". Nenhum problema. Era uma apresentação clássica, digamos assim. Assim é que li algo como:
   O libertarianismo descende da escola econômica austríaca, pregando o menor Estado possível. Ele representa uma radicalização da tradição liberal do século XVIII, considerando a igualdade como ameaça à liberdade, sendo esta última um valor fundante dos defensores do libertarianismo. E esta SUPOSTA [pequena ressalva, mas usando os termos do autor] oposição - entre liberdade e igualdade - seria o equivalente à distinção entre direita e esquerda.
   Pois bem. Neste finalzinho, o autor mostra que a tal "oposição" é "suposta" porque ela se baseia em determinada tradição filosófica, sem levar em conta outras. Sigamos, porque esse não é meu ponto. Quero insistir numa certa dificuldade, desde que não se especifique bem do que se está a tratar, do uso pacífico dos termos. 
   Observe-se, então, essa passagem do texto, sem perder de foco que, para o senso comum, as bandeiras progressistas representam a "esquerda" e que "libertarianismo" está francamente associado à "direita":
   "O libertarianismo original, por sua convicção de que a autonomia individual deve ser sempre respeitada, levaria a posição avançadas em questões como consumo de drogas, direitos reprodutivos e liberdade sexual. Mesmo nos Estados Unidos, porém, tais posições tendem a estar mais presentes em textos dogmáticos do que na ação política dos simpatizantes da doutrina".
   Segundo o autor, é a união a grupos conservadores que acaba por impedir a assunção dessas bandeiras, reforçando, ao contrário, os valores da "família tradicional".
   Mas como explicar a um empolgado jovem militante das causas progressistas que ele defende algo classificado como "de direita"?!?!?
   

American IPA e APA


   Outro dia, estava bebendo uma cerveja que continha, no rótulo, a informação de que se tratava de uma American IPA. Abri, esperando toda aquela força de uma IPA (India Pale Ale) e... apreciei como uma APA (American Pale Ale). Pensei: Será que uma "American IPA" é algo entre uma IPA e uma APA?
   Para que serve o Google? Fui lá e encontrei a explicação no site "Blog Cervejaria Virtual". Descobri que, na verdade, o tipo de cerveja que eu chamo de APA, tem sido preferencialmente chamado de American IPA, agora, diferenciando-a da IPA tradicional, que é a English IPA.
   Para quem gosta de História, lá vai mais uma, narrada no site:

"O estilo India Pale Ale (IPA) nasceu durante a colonização inglesa na Índia, por volta da década de 1780. A viagem entre metrópole e colônia chegava a durar mais de 6 meses, e era muito comum que as cervejas chegassem ao seu destino deterioradas e impróprias para consumo. Foi aí que tiveram a ideia de fazer uma cerveja mais encorpada e com bastante lúpulo, que pudesse ser conservada por mais tempo.
A IPA caiu no gosto dos ingleses da época, tornando-se posteriormente um dos estilos mais apreciados pelos amantes de cerveja. Com o passar dos anos, diversas variações da receita original surgiram ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, na década de 80, muitas cervejarias artesanais resolveram criar uma nova versão dessa cerveja inglesa utilizando lúpulos americanos, a qual conhecemos hoje como American IPA.
A English IPA apresenta um alto amargor, mas ao mesmo tempo é suave na boca, com um final amargo e lupulado. A American IPA tem um perfil mais lupulado em comparação com as inglesas, que apresentam um sabor mais clássico. A principal diferença entre elas é a origem dos lúpulos: enquanto os lúpulos ingleses conferem características mais florais, picantes e terrosas às cervejas, os lúpulos americanos oferecem um sabor que lembra frutas tropicais".

   

Por que se vota em alguém? (2)


   Diante do que foi apresentado no post anterior, podemos sugerir que escolher um candidato não é um ato totalmente "racional" - mesmo segundo o critério da Escola Econômica. 
   Se resta pacífico que, do ponto de vista das escolas sociológica e psicológica, a tomada de decisão tem a ver com o caráter do indivíduo, o que envolve fundamentalmente perspectivas afetivas, no que diz respeito à Escola Econômica/Racional, esta dimensão também se revela importante, visto que os valores a que damos destaque para considerar o que é do nosso "interesse" também passam pelo afetivo. O aspecto puramente racional surgiria apenas como instrumental, isto é, como meio, a fim de alcançar um fim já dado afetivamente, digamos assim.
   Fujamos, então, de uma interpretação meramente racionalista da escolha daquele que merece nosso voto.

Por que se vota em alguém?


   Pesquisadores como M.M. Castro (Sujeito e estrutura no comportamento eleitoral), M. Figueiredo (A decisão do voto: democracia e racionalidade) e Angus Campbell (The American Voter) tentam responder à pergunta do título do post.
   Num resumo, poderíamos pensar em três tipos de escolhas de candidatos, que são explicados pelas seguintes escolas:

   1) Escola Sociológica - a escolha se baseia na identidade cultural do votante, ou seja, no contexto social do grupo ao que o eleitor pertence. Em alguma medida, de modo bastante simplificado, poder-se-ia pensar na "classe social". Para este tipo de votante, a campanha eleitoral tem pouco efeito, visto que não modificaria o pensamento da classe como um todo.

   2) Escola Psicológica - também chamada de Escola Emocional. Apesar de não negar a contribuição do grupo social do votante, considera-a insuficiente para explicar a motivação da escolha. Muito mais importante, segundo esta proposta teórica, seria o processo de socialização política do indivíduo. Este processo acaba sendo um amálgama de vários elementos, não apenas vivenciados de forma coletiva - como no grupo social em que se está inserido -, mas com forte viés das experiências individuais.

   3) Escola Econômica - também chamada de Escola Racional. Segundo esta escola, os eleitores, como alguém que procura um produto em um mercado, visam maximizar seus próprios interesses, através do voto, sendo movidos, portanto, exclusivamente por motivações egoístas.

   Apesar de a Escola Econômica ter ganho relevância na tentativa de explicar as motivações dos eleitores, admite-se que esses modelos puros são limitados para uma justificativa completa da escolha do eleitor. O melhor seria, então, definir proporções em que cada eleitor reage diante da possibilidade de escolha. Assim, poderíamos falar de tendências de seguir um padrão de escolha, muito mais do que a determinação de fazê-lo.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

A eleição...


   Assunto do mês de outubro... mas... bastante quente ainda: a eleição de Jair Bolsonaro para presidente do Brasil. Sobre isso, vale a pena escrever muito.
   Vamos começar com um aperitivo, perguntando: Democracia não é assim mesmo? 

Voltando... atrasado...


   O mês de novembro já passou? Noooossaaaa! Aliás, pelo visto, bastante coisa passou, sem que ficasse registrada. Vou retomar eventos e leituras passadas, aos poucos. 
   Mas... para começar, registros anuais para este mês:

  1) 15 de novembro - Dia Mundial da Filosofia;
  2)  19 de novembro - aniversário do blog (Dez anos!?!?!)
  3) 21 de novembro - aniversário deste que escreve; e
  4) 24 de novembro - aniversário de Spinoza. 

  Voltei!

terça-feira, 21 de agosto de 2018

16 km...


   ... até nunca mais. Rsss


 Missão cumprida em 1h40min55s.

terça-feira, 19 de junho de 2018

Progressistas e a esquerda


   Aqui no Brasil, acostumamo-nos a associar as bandeiras progressistas à esquerda e o conservadorismo à direita. Nada tão errado nisso. Mas... quem estuda um pouco mais, sabe que isso não é absolutamente necessário.
   Vejamos, então, um caso a levar em consideração.
   Estamos no meio da Copa do Mundo, realizada na Rússia. Um bando de brasileiros bobalhões, gravou um vídeo com o que parece ser uma cidadã russa que não compreende o Português. Os caras falam umas bobagens e a moça é induzida a repetir o que eles dizem, sem saber que ela está sendo objeto de uma brincadeira de mau gosto. O vídeo viralizou na internet. O portal de notícias UOL entrevistou russas e brasileiras sobre o vídeo. A indignação das brasileiras foi tremenda, enquanto as russas reconheceram que foi uma brincadeira de mau gosto, mas se mostraram menos "revoltadas" com o fato. 
   A matéria se encerra com da seguinte forma:
   "Essas opiniões tão distantes tem origem na realidade da Rússia atual. Elas vivem em um dos países mais machistas do mundo e que aprovou, recentemente, uma lei que despenaliza a violência doméstica: se o agressor não causar dano físico à vítima e não repetir a agressão em menos de um ano, ele não pode ser acusado.
   Além disso, movimentos feministas são mal-vistos nas ruas e, alguns deles, são perseguidos pelo governo.
   Svetlana Zhabirikova [uma das russas entrevistadas] diz que todas as pessoas têm direito à opinião, mas ela não apoia o feminismo. Considera que é um movimento que defende a igualdade entre homens e mulheres e acredita que no mundo isto já acontece e as mulheres não devem lutar.
   Até mesmo quem critica os torcedores brasileiros coloca panos quentes no conteúdo do vídeo. Maria Semenovich, a mesma que falou que foi uma brincadeira, afirma que houve falta de respeito por parte deles. [...] Mas termina dizendo que não se importa com o feminismo. 'O mundo deve ser controlado por homens'".
   Obviamente, os valores das moças russas representam aquilo que lhes é passado pela sociedade conservadora em que vivem. Mas o que quero destacar nem é a opinião - curiosa, para dizer o mínimo - das russas, e sim a questão de alguns movimentos feministas serem inclusive perseguidos pelo regime comunista - ou seja, de esquerda - conservador.

Quotas no Rio de Janeiro


   A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro deverá votar hoje projeto de lei que decide os futuros da política de quotas no Estado do Rio de Janeiro - usada, por exemplo, para acesso à sua universidade estadual.
   Embora o assunto do artigo citado no post anterior, de autoria da socióloga Paula Johns e da nutricionista Ana Paula B. Martins, fosse a retirada de subsídios federais de bebidas adoçadas, o que poderia vir a reduzir o consumo destas, afetando positivamente a saúde dos brasileiros, gostaria de aproveitar um pensamento e fazer uma analogia com a política de quotas.
   As autoras dizem:
   "Entendemos que os incentivos fiscais são usados em determinado período, para ajudar alguns setores da economia. Mas eles precisam de revisão, ou porque o setor desenvolveu-se a contento, ou porque os resultados esperados não foram alcançados, ou ainda porque a pressão da sociedade demanda que determinados privilégios não devam mais ser prioridade para o desenvolvimento do país".
   Como eu disse, é uma analogia, não cabendo de forma integral ao tema ora analisado. Contudo, o que merece destaque, segundo meu ponto de vista, é a necessidade de avaliação constante das políticas públicas, de modo que se ajuste sua lógica de implementação. Assim, otimizam-se os resultados obtidos, efetivamente alcançando o que se almeja. 
   Obviamente a questão final do trecho citado do artigo não se aplica ao tema que analisamos. Afinal, não se trata, aqui, de "privilégios" concedidos a um grupo, mas de uma política de reparação. Ainda assim, pode ser que se identificasse que este não seria o melhor caminho para alcançar o objetivo desejado, e valesse à pena até abandonar este procedimento. Contudo, a avaliação tem que ser o mais objetiva e realizada com a maior responsabilidade possível.

Os curiosos números brasileiros


   Outro dia, eu comentava como, apesar alguns números brasileiros são curiosos. Ao mesmo tempo em que indicam dados absolutos similares aos de primeiro mundo, identifica-se uma desigualdade absurda.
   Agora, apresento mais outro. 
   Falamos sempre da fome no Brasil e das pessoas em situação de extrema pobreza. Mas... eis que nossa Terra do Pau Brasil se coloca entre os primeiros do mundo quando o assunto é... obesidade. 
   Em artigo de autoria da socióloga Paula Johns e da nutricionista Ana Paula B. Martins, publicado recentemente no Jornal do Brasil, tomei conhecimento que somos o terceiro país com maior número de homens obesos e o quinto, no que se refere às mulheres, em todo o mundo.
   Para completar o susto: dos nossos 208 milhões de habitantes, 82 milhões (Que isso?!?!?!?) são obesos!!!!

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Palavra de médico sobre homossexualidade (2)


   Ainda na mesma linha do post anterior, há outro artigo do Dr. Drauzio Varella, do mesmo livro. Vejamos alguns trechos de "O sexo redefinido":
   A ideia de que existam apenas dois sexos separados pela presença ou ausência de um cromossoma Y é simplista. Os cromossomas podem dizer uma coisa, enquanto ovários, testículos, hormônios e a anatomia sexual indicam outra direção.
   Quando a genética é levada em consideração, a linha divisória entre os sexos fica nebulosa. A divisão genética existente nos tecidos de uma pessoa nem sempre se enquadra na ortodoxia binária: masculino/feminino.
   Do ponto de vista genético, existe entre as mulheres e os homens típicos um espectro de pessoas com variações cromossômicas sutis, moderadas ou acentuadas.
   O dogma de que cada célula contém exatamente o mesmo set de genes está ultrapassada. Em alguns casos, os cromossomas se misturam no óvulo fertilizado, de modo que um embrião que iniciou como XY pode perder o cromossoma Y em um grupo de células (mosaicismo).
   Nesses casos, se a maioria de suas células for XY, a aparência física será de homem. Se a maioria for XX, a mulher terá ovários atrofiados e baixa estatura (Síndrome de Turner).
   À medida que a Biologia deixa claro que o conceito de sexo envolve um espectro, a sociedade e as leis terão que decidir como traçar a linha divisória entre os gêneros. Devem ser considerados os cromossomas, as células, os hormônios ou a anatomia externa? E o que fazer quando esses parâmetros se contradizem?
   Diante de tal complexidade, não seria mais sensato considerarmos irrelevante o sexo ou o gênero de qualquer pessoa?

Palavra de médico sobre a homossexualidade


   Interessantíssimo o livro Palavra de médico - ciência, saúde e estilo de vida, de Drauzio Varella, publicado pela Companhia das Letras. Como o título indica, o livro aborda vários temas. 
   Diante da discussão aquecida sobre sexualidade e gêneros que temos presenciado atualmente, alguns debatedores apelam ao argumento de que não são levados em consideração aspectos científicos da questão, dando relevo apenas a teorias sociológicas ou mesmo psicológicas, que, para esses debatedores, não pertencem ao campo da objetividade científica, mas tão somente ao das opiniões subjetivas.
   Contra esses - de um campo mais conservador, normalmente -, podemos invocar alguns trechos do que diz o Dr. Drauzio Varella, no artigo "Homossexualidade, DNA e ignorância":
    A antiga visão do sexo como binário, condicionado pelos cromossomas XX ou XY, está definitivamente ultrapassada. Ela é incapaz de explicar a diversidade de orientação sexuais existente nos seres humanos, nos demais mamíferos e até nas aves.
   Transmitidas de pais para filhos, epimarcas específicas nas regiões do DNA ligadas às reações dos tecidos fetais à testosterona oferecem bases mais sólidas, inclusive para entender os casos de bebês com órgãos sexuais ambíguos e das pessoas que julgam ter nascido em corpos que não condizem com sua identidade sexual.
   A homossexualidade é um fenômeno de natureza tão biológica quanto a heterossexualidade. Esperar que uma pessoa homossexual não sinta atração por outra do mesmo sexo é pretensão tão descabida quanto convencer heterossexuais a não desejar o sexo oposto.
   Os que assumem o papel de guardiões da família e da palavra de Deus para negar às mulheres e homens homossexuais os direitos elementares não são apenas sádicos, preconceituosos e ditatoriais, são ignorantes.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Risco Brasil


    Em 23 de abril de 2018, Celso Rocha de Barros escreveu um artigo intitulado "Pode surgir algo de novo dos escombros do sistema partidário?".   
 Celso analisa as mudanças que vinham - e vêm - ocorrendo em relação ao cenário político, no que concerne aos partidos e aos nomes dos pré-candidatos à Presidência. Entre as questões apresentadas, surge uma relativa à preocupação com a necessidade do surgimento de partidos que tenham, efetivamente, peso para as eleições. Sua posição fica assim registrada:
 "O maior risco para o Brasil, no momento, mais do que qualquer problema fiscal ou social, é ficar sem partidos fortes, os únicos antídotos conhecidos contra os personalismos que já acabaram com mais [de] um país latino-americano".
   Já manifestei aqui preocupação semelhante. Acho que os partidos têm que ser a base do sistema eleitoral, com seus programas bem definidos. Aliás, é assim que o sistema está projetado. Os grandes "puxadores" de votos podem ser interessantes para multiplicar as cadeiras conquistadas pelos partidos, mas eles acabam por superar completamente - eu diria até "esmagar" - os programas dos próprios partidos, tornando os mesmos quase apêndices dessas figuras, em vez de protagonistas do sistema eleitoral, como devem ser.

terça-feira, 29 de maio de 2018

Liberal de verdade (completo, agora!)


   Interessante a definição utilizada por Hélio Schwartsman, em seu artigo na Folha de S. Paulo, no dia 27/02/18, para "liberal de verdade".
   Devemos lembrar que, originalmente, o termo "liberal" indicava alguém que pretendia diminuir a possibilidade de intervenção do Estado sobre o indivíduo, deixando mais espaço para a livre escolha deste, e menos para a regulação estatal da vida privada. Assim, pensaríamos que toda essa questão que hoje é apropriada pela "esquerda", sobre a liberação de determinadas coisas que arrepiam os "conservadores" - sempre associados à direita -, deveriam ser consideradas como bandeiras dos liberais.
   E é neste ponto que Schwartsman toca, quando trata do tal "liberal de verdade", ao caracterizá-lo da seguinte forma:
   "Pense num candidato que aceite o beabá da cartilha econômica - ideias bem básicas como a de que não se pode, por muito tempo, gastar mais do que se arrecada - e leve a sério a liberdade, sem medo de defender propostas impopulares como a legalização de drogas, descriminalização do aborto, da eutanásia, abolição de delitos como desacato, apologia, etc. Ou, pela negativa, alguém que não queira censurar museus, nem endurecer o direito penal e nem se perca em fazer agrados a igrejas".

Revoluções russas


   A revista Sociologia, em seu número 74, traz um artigo intitulado "PCB, PCdoB e PPS - cizânias hierárquicas, teóricas e burocráticas", de autoria de Alessandro F. Figueiredo e Fábio Metzger. 
  O texto é muito bem escrito, com várias referências que lhe dão a consistência necessária. Com certeza, vale à pena fazer algumas citações aqui.
  Antes, porém, gostaria de comentar uma coisa que me pareceu estranha. O autor começa o texto dizendo "Com a vitória da Revolução Marxista-Leninista no antigo Império Russo [...]" e registra numa nota:
   "O termo 'Revolução Marxista-Leninista' em português é o mais apropriado para o episódio histórico visto que a expressão 'Revolução Russa' é utilizada internacionalmente para um acontecimento anterior a esse, ocorrido em 1905, e que não deve ser confundido com ele".
   Acho um certo preciosismo do autor esta observação. Decerto que a expressão "Revolução Marxista-leninista" esclarece melhor o leitor a respeito do tipo de orientação ideológica que conduziu o processo revolucionário. Mas, em hipótese alguma, parece absurdo o uso de "Revolução de 1917" ou "Revolução Russa", que, mesmo internacionalmente, ao contrário do que afirma o autor, são reconhecidas como equivalente da que foi escolhida. 
   De qualquer modo, há uma explicação sucinta, mas que vale à pena ser lida. Lá consta:
   "O termo 'Revolução Comunista ou Marxista' meramente também não se enquadra, uma vez que as atividades revolucionárias não ocorreram de acordo com a teoria marxista. Já o conceito 'marxista-leninista' deixa em evidência o principal teórico e líder da revolução (Vladimir Illitch Ulianov Lenin) e de sua reinterpretação singular da teoria marxista para o então Império Russo de 1917, um país atrasado em relação às potências centrais. O leninismo é uma doutrina política que busca a organização de uma vanguarda partidária revolucionária para a implementação da ditadura do proletariado como pressuposto para o estabelecimento do socialismo. A teoria marxista, por sua vez, indica a revolução para a saída do capitalismo somente para os países mais desenvolvidos, o que não era o caso do Império Russo, assim como nega a participação e até mesmo a existência do campesinato na revolução".
       

Mais uma atribuição enganosa...


   Outra citação famosa a respeito da qual se negou a autoria foi "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo". Voltaire nunca escreveu tal coisa... infelizmente. Afinal, muito do seu pensamento é louvado justamente pela defesa que ele faz do direito à liberdade de expressão - resumida brilhantemente nesta frase.
   

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Os Econômicos, de Aristóteles


   Estudar traz cada novidade...
   Ainda em Perfil de Aristóteles, Berti louva o Estagirita, dizendo que "Aristóteles pode ser considerado o fundador do conceito da filosofia prática entendida como ciência diferente das teoréticas, porém munida de racionalidade própria". Até aqui, tudo bem.
   Berti continua: "As obras nas quais ele expõe essa filosofia prática são as três Éticas, isto é, a Ética a Nicômaco, a Ética a Eudemo e a assim chamada Grande Ética, e a seguir a Política". Até aqui, tudo bem também.
   Agora vem a novidade, para mim: "O tratado intitulado Econômica [ou Os econômicos], transmitido como parte do corpus aristotelicum e que trata de temas igualmente pertencentes à filosofia prática, é concordemente considerado como não sendo obra de Aristóteles". É mesmo?!?! Dessa, eu não sabia!!!

terça-feira, 8 de maio de 2018

Aristóteles vs. Spinoza, Hobbes, Hegel e Marx


   O enfrentamento desses sujeitos do título da postagem é "briga de cachorro grande". Quem o propõe é o especialista no Estagirita, o professor Enrico Berti, no livro Perfil de Aristóteles. 
   Quando trata do conceito de razão prática, em Aristóteles, Berti explica: "[...] o seu [da razão prático-poiética] é tudo aquilo que depende do homem, da sua proposição [proaíresis] ou de algum modo da sua intervenção, ou seja, as ações e as produções humanas, a 'história' [...]. A característica de tal objeto é ser constituído pelas coisas que podem estar diferentemente de como são [ou seja, dos contingentes] [...]. Portanto, ele resulta ser [...] aquilo que poderíamos chamar o reino da liberdade. Dada a margem de indeterminação que contém, essa liberdade não permite conhecimento propriamente científico, isto é, demonstrativo, dos objetos por ela caracterizados. Isso significa que, para Aristóteles, não há conhecimento científico das ações e das produções humanas ou da 'história': em síntese, não há ética ou política dotada da mesma necessidade própria das ciências matemáticas ou físicas, como pretenderão filósofos como Spinoza e Hobbes, nem história cientificamente determinável, como pretenderão os filósofos dialéticos modernos (Hegel e Marx) ou os positivistas".

Primeiro treino


    Ontem fiz meu primeiro treino para os 16 km. Como já não corria acima dos 10 km havia um bom tempo, foi noite de pernas doloridas. Isso, mesmo tendo feito um péssimo tempo. Mas foi dada a largada... com apenas 11,2 km. Mas foi... Rsss

História da Propaganda Política


   Estou fazendo uma disciplina em Ciência Política que se chama "História da Propaganda Política". É interessante perceber a tranquilidade com que os teóricos tratam a propaganda política como um negócio. 
   Ciro Marcondes Filho, em A saga dos cães perdidos, indica os ciclos em que se divide o jornalismo, sob o ponto de vista da difusão  das mensagens políticas.
  - 1º ciclo - de 1789 à metade do século XIX: quem tinha o conhecimento acerca dos fatos destacava-se socialmente. A imprensa possuía fins pedagógicos e o interesse financeiro era baixo.
   - 2º ciclo - segunda metade do século XIX: as inovações tecnológicas transformam a imprensa numa classe empresarial e as exigências passam a ser ditadas conforme a lógica do capital financeiro. É o nascimento da imprensa de massa. Os veículos começaram a mascarar suas "bandeiras políticas".
   - 3º ciclo - século XX: era dos oligopólios midiáticos. Esse período marca a ascensão publicitária e a extinção de qualquer espécie de puritanismo ideológico no jornalismo. É neste período que os grupos de comunicação, ou seja, as empresas, passaram a mascarar toda e qualquer preferência política por meio do discurso da objetividade e da isenção editorial.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

A última...


   Inscrição feita. Nesta, serão 16 km. Provavelmente a minha última prova acima dos 10 km. Dia 08 de julho de 2018.


O Freud do século XVII?!?!


   O livro Grandes lendas do pensamento, de Henri Pena-Ruiz, traz uma série de questões consideradas fundamentais para o pensamento humano - como o livre-arbítrio; o sentido da vida; as paixões, etc. -, valendo-se de estórias e mitos.
   Uma dessas estórias se refere ao filósofo francês René Descartes (1596-1650), respondendo, ao diplomata Hector-Pierre Chanut (1601-1662), a questão "Por que amamos mais certas pessoas do que outras?".
   Descartes apresenta uma resposta muito interessante, que lembra muito a visão freudiana sobre a associação de duas impressões, expondo uma análise que fora fazendo de si mesmo, a partir de uma experiência da sua infância.
   Em carta de 06 de junho de 1647, ele escreve: 
   "Quando criança, eu amava uma garota [...] que era um pouco vesga; com isso, a impressão em meu cérebro, quando olhava seus olhos desviantes, se aproximava tanto da que nele acontecia para estimular-me as paixões amorosas, que, muito tempo depois, vendo vesgos, eu tendia a gostar mais deles do que de outros, simplesmente por possuírem defeito; ignorava, contudo, que fosse por isso".
   Para arrepio do mestre vienense, criador da Psicanálise, contudo, Descartes conta que fez uma autoanálise, a partir da qual se conscientizou da origem de sua emoção - o mecanismo associativo entre uma emoção passada e outra presente -, e deixou de se comover. Permanecerá um "vestígio", uma "marca" no cérebro - como veremos a seguir -, mas sem futuro afetivo.
   A explicação do fenômeno do "vestígio" é o seguinte:
   "Os objetos que afetam nossos sentidos movem, por meio dos nervos, algumas partes de nosso cérebro, neles formando certas dobras que se desfazem quando o objeto cessa de agir; mas a zona na qual elas foram feitas permanece, posteriormente , predisposta a ser dobrada novamente, do mesmo jeito, por outro objeto semelhante, ainda que não totalmente, ao precedente".
   A ideia do "vestígio", essa "marca" que resta no cérebro, após uma impressão, em alguma medida, repete uma noção estoica... que depois parece ser retomada por Spinoza. Mas isso é outra estória...
   
   

PNAD 2017 (2)


   Apesar dos bons índices apresentados, sabemos que o Brasil não é país do primeiro mundo... aliás, mais até do que simplesmente saber, nós vivemos essa realidade de afastamento dos países mais evoluídos. Talvez a resposta para esta nossa sensação seja a desigualdade, mais do que a pobreza geral, especificamente.
   Vejamos alguns números, sobre isso, do mesmo PNAD 2017:
   
   - As pessoas que faziam parte do 1% da população brasileira com os maiores rendimentos recebiam, em média, R$ 27.213, em 2017. Esse valor é 36,1 vezes maior que o rendimento médio dos 50% da população com os menores rendimentos (R$ 754)
   - O rendimento médio mensal real domiciliar per capita foi de R$ 1.271 em 2017. As regiões Norte (R$ 810) e Nordeste (R$ 808) apresentaram os menores valores e a Região Sul, o maior (R$ 1.567).
   - 13,7% dos domicílios recebiam dinheiro do Programa Bolsa Família em 2017, um percentual menor que o de 2016 (14,3%). Norte (25,8%) e Nordeste (28,4%) foram as regiões que apresentaram os maiores percentuais. O Benefício de Prestação Continuada (BPC) era recebido por 3,3% dos domicílios do País, em 2017. Mais uma vez, Norte (5,6%) e Nordeste (5,2%) apresentaram os maiores percentuais.
   - o rendimento médio mensal real domiciliar per capita nos domicílios que recebiam o Bolsa Família foi de R$ 324 e naqueles que não tinham foi de R$ 1.489. Para os domicílios que recebiam o BPC foi de R$ 696 e os que não recebiam, R$ 1.293.
   

PNAD 2017


   O IBGE divulgou dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios de 2017.
   Alguns índices são curiosos, porque deixam transparecer uma situação de países do primeiro mundo. 
   Vejamos... em termos aproximados:
   - 99% dos lares têm energia elétrica;
   - 98% têm geladeira;
   - 97% têm televisor;
   - 93% têm celular;
   - 86% têm água encanada; e
   - 70% têm acesso à internet.
   Será???? Embora o IBGE seja extremamente sério, há que se verificar a metodologia desta pesquisa. Algum amigo se aventura?
   

Ainda Bobbio...


   No livro Direita e esquerda: razões e significados de uma distinção política, Norberto Bobbio indica sua motivação - bem nobre, aliás - para se envolver com a Política.
   Diz ele: "A razão fundamental pela qual em algumas épocas da minha vida tive algum interesse pela política [...] sempre foi o desconforto diante do espetáculo das enormes desigualdades, tão desproporcionais quanto injustificadas, entre ricos e pobres, entre quem está em cima e quem está embaixo na escala social, entre quem tem poder [...] e quem não tem".

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Na dúvida... a dúvida


   Conforme os céticos faziam diante de uma dúvida, nada de  se angustiar, mas... suspender o juízo.
   Numa entrevista publicada em 2000, ao jornal italiano La Repubblica, o filósofo Norberto Bobbio disse: "Quando sinto ter chegado ao fim da vida sem ter encontrado uma resposta às perguntas últimas, a minha inteligência fica humilhada, e eu aceito esta humilhação, aceito-a e não procuro fugir desta humilhação com a fé, por meio de caminhos que não consigo percorrer. Continuo a ser homem, com minha razão limitada e humilhada: sei que não sei. Isso eu chamo de minha religiosidade".

Lúpulos brasileiros


   Boa notícia... para o futuro, de acordo com artigo da jornalista Sônia Apolinário, publicado no Jornal do Brasil.
   No último dia 21 de março, cinco variedades de lúpulos produzidos no Brasil foram registradas junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento por produtores do Paraná. Ou seja, agora o Brasil possui oficialmente lúpulos nacionais. São os lúpulos do tipo Cascade, Centennial, Fuggle, Hallertauer Magnum e Northen Brewer, a partir de plantas importadas.
   Além disso, em São Bento do Sapucaí (SP), um produtor tenta registrar uma nova variedade de lúpulo, que está sendo considerado 100% nacional, batizado de "Mantiqueira".
   Como bem observou a jornalista, além da economia com as importações e a valorização das cervejas nacionais, a produção ampliará o mercado de trabalho daqueles envolvidos na agroindústria.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Mais um fã?!?!


   Há bastante tempo tenho o livro A companhia dos filósofos, do filósofo Roger-Pol Droit. Contudo, só por estes dias, fazendo uma arrumação nas estantes é que resolvi dar uma folheada mais séria no livro.
   Começando pela "orelha". Lá está: "Você já encontrou algum filósofo? [...] Constatou que os filósofos não são tristes? [...] Você constatará [através do livro] que esses fabricantes de ideias, que costumam ser tidos por uns chatos consumados, são aventureiros de uma espécie curiosa, experimentadores de existência. [...] Eles lhe mostram que pensar, viver e rir são atividades semelhantes. De Sócrates e Platão a Foucault e Deleuze, você vai ver que o exercício da filosofia luta apenas contra dois inimigos: a tolice e a tristeza".
   Prognóstico positivo de uma boa leitura. Fui direto para onde? Capítulo VI - Razão Clássica - Descartes e Spinoza. E... acho que descobri alguém mais entusiasmado com Spinoza do que eu. Vejamos o que Roger-Pol Droit fala da Ética, do Spinoza:
   "Livro-universo
    A Ética pertence ao pequeno número dos livros-universos. Muitos filósofos sonharam encerrar o mundo numa só análise, como explicar até mesmo suas zonas de sombra. Poucas obras dão a sensação de perfeição definitiva que emana dessa obra. Nenhuma, sem dúvida, conserva tão fortemente uma força de agir sobre nossas vidas. De fato, sua finalidade não é saber por saber. Graças ao conhecimento, trata-se de limpar o humano, em espírito e em corpo, das suas angústias insensatas, das suas cegueiras fanáticas, de todos os males gerados pelas ilusões ligadas à sua ignorância. A chave do mundo também é a chave da felicidade. A razão tem por missão governar a vida, cotidianamente. O saber pode levar à salvação. Desvendar os verdadeiros princípios, tirar retamente deles as justas consequências não é, aqui, uma contribuição limitada a um trabalho científico sem fim. É a via de acesso à beatitude infinita da sabedoria".
   Isso já disse muito. Mas Droit vai mais longe:
   "[...] convém ler e reler a Ética [...] tratado matemático que tem nossos sentimentos por objeto e que transforma em libertação o mais total determinismo".
   Em mais uma bela passagem, Droit explica:
   "[...]ao preconceito corrente segundo o qual cremos desejar o que é belo e bom, Spinoza opõe a ideia de que julgamos belo e bom aquilo para o que nosso desejo nos inclina. [...] somente o desejo julga e comanda. Positivo, construtor e motor, o desejo já não é uma parte maldita a ser refreada sob a autoridade da razão. A vida do sábio não é ascética. Ela é automodificação do desejo que sabe preferir, graças à compreensão racional, o que é mais proveitoso à sua expansão real".
   E, por fim:
   "A sabedoria de Spinoza é sem transcendência e sem mortificação. Essa alegria [...] é inimiga de toda e qualquer forma de tristeza, de diminuição ou de dilaceramento de si. Não se escapa do mundo pela salvação. Ao contrário, o ser humano se torna tão plenamente vivo que já não resta nenhum lugar para a ilusão dos transmundos".
   Eu queria ter escrito isso... Inveja branca... Rsss

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Filosofia e cerveja


   Eu sempre achei que Filosofia e cerveja combinam muito bem. Parece que o professor de Filosofia do Long Beach City College pensa o mesmo. Tanto é que escreveu o livro Filosofia de botequim, publicado pela Editora Alaúde, aqui no Brasil.

   O livro começa apresentando 48 cervejas que serão "harmonizadas" com questões filosóficas. Há cervejas e questões para todos os gostos - artesanais e comerciais; claras e escuras (as cervejas) e metafísica, moral, epistemologia... (as questões).
   O final do prefácio é assim:
   "Com a cerveja e o livro em mãos, você está pronto para começar. Mas lembre-se: Beba com moderação. Pense em excesso". Boa!!!! Rsss.
   Depois, conto mais...

terça-feira, 27 de março de 2018

Embaralhamento do discurso


   No dia 18 de março, o Jornal do Brasil publicou artigo bastante interessante de Gilberto Scofield Jr. com o título "O pertubador embaralhamento do discurso no Brasil".
   Logo de início, Scofield trata da curiosidade de se considerar, aqui no Brasil, o comunismo como uma ameaça presente logo ali na esquina. Ainda mais, como eu sempre insisto, com um dogmatismo baseado quase integralmente na doutrina original de Marx. Em relação a isto, Scofield diz: "Triste notar que uma parte da população brasileira estacionou no vocabulário dos anos 1960/70, enquanto na Europa o 'comunismo' não é mais visto como ameaça". 
    Scofield dá um choque de realidade num "comunista" parado no tempo, quando diz: "o muro de Berlim foi derrubado há quase 30 anos! Cuba recebeu recentemente o Obama! A 'comunista' China é hoje uma das maiores economias no ranking dos países... capitalistas! A Coreia do Norte é uma país tão fechado que, pelo visto, não tem o menor interesse em espalhar sua ideologia além das suas fronteiras; etc. etc.".
   Mas, dá uma bronca em gente do campo ideológico oposto ao dizer: "Fica difícil ouvir um jornalista brasileiro evocando erros e crimes da velha URSS, num terrorismo ideológico caduco, só para derrubar ideais legítimos da esquerda hoje. Isso é uma desonestidade intelectual inaceitável".
   Bastante interessante é o que vem a seguir: "O que a maior parte da esquerda brasileira quer hoje é o que muitos países europeus capitalistas (não comunistas) já têm: saúde e educação gratuitas para todos, um salário-mínimo de aproximadamente R$ 4 mil (como na França), um seguro-desemprego decente e durável, auxílio-moradia para famílias desprivilegiadas (não para juízes ricos, como no Brasil), direitos humanos e trabalhistas assegurados". Mas o fechamento deste parágrafo é fantástico: "Enquanto na Europa esses são 'valores republicanos', aqui é 'comunismo'."
   O texto segue como boas ideias, como os conceitos de direita e esquerda serem embaralhados pelos políticos, de olho em seus próprios interesses; os debates deverem ser abordados por uma divisão entre progressistas e conservadores; os enganos de um partido com vocação progressista como o PT ter se corrompido pelos conservadores de sempre e etc.
   Mais próximo ao final, Scofield faz algumas perguntas - apresentando suas respostas -, como: "A LRF é de direita? Não acho. [...] O combate à inflação é de direita? Não [...] O Bolsa Família é de esquerda: Nunca. [...] As cotas são coisa de comunista: Só se você nunca ouviu falar em escravidão e suas consequências históricas".
   Vale a pena ler o texto, na íntegra, através do link: http://m.jb.com.br/artigo/noticias/2018/03/18/o-perturbador-embaralhamento-do-discurso-no-brasil/

O Capital


   Todos conhecem a extensão da opus majus de Karl Marx (1818-1883), mesmo quando se trata apenas do volume publicado durante a vida do filósofo alemão. Muitos desejam compreender melhor as ideias marxianas indo diretamente à sua obra, mas acabam por se intimidar diante do "tijolo" que é o livro. Normalmente, essa dificuldade é contornada com o uso de textos que resumem diretamente O Capital ou daqueles que explicam as teorias de Marx e, indiretamente, tratam dos seus escritos. Particularmente, acho uma boa saída. Mas... há um pequeno livro chamado Compêndio de O Capital, de Carlo Cafiero, que pode permitir esse acesso.
   Em princípio, essa poderia ser apenas mais uma sugestão de leitura, mas ela carrega um valor diferente de outros "resumos" ao Livro I de O Capital. Carlo Cafiero (1846-1892) foi um filósofo político italiano, que desenvolveu uma série de estudos sobre o anarquismo e o comunismo. Mas, especificamente no caso deste compêndio, houve certa "chancela" do próprio Marx. Vejamos esta estória.
   Cafiero enviou a Marx seu compêndio, junto com uma carta, em 23 de julho de 1879, concluída assim: "[...] recorro a vós para pedir o favor de dizer se, no meu estudo, consegui entender e comunicar a exata concepção de seu autor".
   Marx responde, dizendo que já tomara contato com tentativas de resumo de sua obra, e cita alguns defeitos destas. A aprovação da obra de Cafiero vem quando Marx escreve que as "tentativas pareceram fracassar em seu principal objetivo: despertar o interesse do público para quem os livros eram destinados. E é aí que está a enorme superioridade do vosso trabalho".
   A tradução brasileira foi publicada pela Hunter Books, em 2014
   

A tristeza do caso Marielle (2)


   Infelizmente, após as primeiras descobertas, feitas através de imagens de câmeras de segurança instaladas ao longo do trajeto percorrido pela vereadora Marielle Franco, não sabemos de nenhum avanço nas investigações. É certo que a Polícia pode estar mantendo as informações obtidas sob sigilo, a fim de não dar dicas aos responsáveis de que sua impunidade pode estar próxima do fim.
   De qualquer modo, o uso abusivo da imagem de Marielle continua a todo o vapor... de lado a lado. 
   Uns atacando a moral de Marielle; outros tomando suas bandeiras, de forma oportunista, pregando uma coisa e fazendo outra.
   Em nota no Jornal do Brasil, em 18 de março, Jan Theophilo escreveu:
   "Bola fora
     Em nota oficial, a direção do PT afirmou que o país vive uma 'escalada autoritária', que teve entre seus frutos a condenação de Lula, a intervenção federal no Rio e 'o assassinato da companheira Marielle Franco'. Comparar a execução de Marielle com a prisão de Lula é de um oportunismo político enojante".
    Aliás, o ex-presidente merece outra referência negativa. Durante sua jornada pelo Brasil, Lula tem sido hostilizado em alguns lugares na Região Sul. Certamente, nenhuma violência física deve ser admitida, mas gritos e vaias são manifestações pacíficas. Mas não é que o petista disse que a Polícia Militar deveria dar um "corretivo" nos manifestantes?
   

sexta-feira, 16 de março de 2018

Nazismo... direita ou esquerda?


   Leandro Narloch escreveu na Folha de S. Paulo, em agosto do ano passado, sobre o lugar do nazismo na usual classificação "direita-esquerda".
   Sabemos que o nome do partido nazista era Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães... logo, os nazistas eram "socialistas". Portanto, eram de esquerda.
   Mas... eles eram inimigos da URSS, combatendo o socialismo... logo, eram de direita. 
   Ué... ficou confuso.
   Vamos ao que explica Narloch.
   "[...] algumas propostas do nazismo, principalmente no início do movimento, têm toda a cara da esquerda. A primeira plataforma do Partido Nazista, publicada em 1920, defendia reforma agrária, divisão dos lucros de indústrias pesadas, estatização de grandes lojas de departamento, proteção social na velhice e proibição do rentismo e do trabalho infantil".
    Mas...
   "Hitler [...] não ligava para a igualdade, o principal valor da esquerda. Pelo contrário, a teoria dos nazistas se baseava na desigualdade - os mais fortes (para eles, os arianos) deveriam vencer e dominar os povos inferiores".
   Hitler não era um conservador, tanto que revolucionou a Europa com suas conquistas... mas também não era um liberal, dando destaque ao indivíduo, porque "O fasci, feixe de varas que deu nome ao fascismo, representa a ideia de que 'juntos somos mais fortes'. Assim como o comunismo, o fascismo e o nazismo eram ideologias coletivistas".
   O final do artigo explica que:
   "O ambiente político do começo do século XX se dividia entre democratas liberais e revolucionários anarquistas ou socialistas. O fascismo e seu correspondente alemão [o nazismo] surgiram como uma novidade que transcendia ideologias tradicionais [...]. Não eram comunistas nem liberais: admitiam o capitalismo, mas um capitalismo submetido aos interesses do Estado, do coletivo".
   Conclusão:
   "Os nazistas não eram nem de esquerda nem de direita: era a terceira via dos anos 1920".




A tristeza do caso Marielle

    A vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, do PSOL, foi brutalmente assassinada, como largamente noticiado pela imprensa.    A primeira linha de investigação toma tal homicídio como encomendado, e não fruto, por exemplo, de latrocínio. Ainda é cedo para qualquer conclusão, mas algumas coisas merecem ser destacadas porque parecem acrescentar uma dor que não precisava ser acrescida a um fato, por si só, tão terrível.
  Inicialmente, a questão do "excessivo" destaque dado à morte de uma vereadora. Alguns se manifestaram dizendo que foi dado muito relevo ao fato de a vítima ser uma vereadora, não se fazendo o mesmo quando se trata de um policial ou de uma pessoa comum. Ora, uma vida tem um valor incalculável - isso é um fato -, mas há que se compreender que há um simbolismo envolvido neste caso. A morte de uma autoridade - seja policial, juiz, presidente - parece transmitir um recado simples: "O Estado - através dos seus representantes oficiais - não tem condições de impedir que nós, bandidos, façamos o que quisermos!". O inverso também é verdadeiro. Quando uma autoridade encarcera - ou até mesmo chega a matar - um fora da lei, o recado parece ser: "Desistam, bandidos. Nós não permitiremos que vocês vençam!".
  Portanto, não se está afirmando que a vida da vereadora valha mais do que a de um comerciante, por exemplo. Óbvio que não é isso. O que se está dizendo é que uma morte desse tipo, em alguma medida, afeta a sociedade como um todo, porque sua intenção, aparentemente, é impedir que o conjunto da sociedade, apoiado por suas instituições, reprove e puna aqueles que descumprem as normas sociais.
   A segunda questão diz respeito ao uso ideológico - perceba-se que não falo em uso "político" - de tal crime. Ora, não é pertinente dizer que "Isso foi a continuação do golpe!", nem que "O culpado é o Temer!", muito menos "Não à intervenção!". Inadequado, por outro lado, mesmo sem apelar ao infeliz "politicamente correto", são as referências jocosas aos direitos humanos dos bandidos - bandeira da "esquerda" -, como numa espécie de "Agora vocês querem que eles sejam presos? Por que com os assassinos de policiais vocês não queriam?".
   Vamos tentar fazer uma crítica mínima desse tipo de pensamento raso. Não vendamos nossas consciências para as ideologias.
  Crimes têm que ser resolvidos e os responsáveis, punidos. Punidos, entenda-se, com o rigor da lei... que não é, há muito tempo, a Lei de Talião.
   Vamos ver o que ainda será descoberto...
  

terça-feira, 13 de março de 2018

Ainda citando...


   Essa parece meio epicurista, quanto à valorização dos bons momentos entre amigos, mas consta do rótulo de uma cerveja artesanal mineira chamada "Libertastes". Lá está, como sugestão de "harmonização":

   "A melhor harmonia de qualquer cerveja é com pessoas. De um modo leve, descontraído e despretensioso. Simplesmente contribuindo para sentir-se em paz, incrementando a sua felicidade".
  
   Que todas as cervejas possam ser bebidas assim... 
   

Francisco Bosco, da revista Cult


   Na revista Cult número 230, há uma coletânea de citações de Francisco Bosco. Recolhi algumas que achei mais interessantes. Lá vai:

- "Um pensador é alguém que nos oferece um modo de ver a realidade, de alguma maneira, como um todo";
- "'Estudo mostra que [...]'; 'Pesquisa demonstra que [...]', etc, quando o objeto não é o genoma dos ratos, e sim qualquer tema que envolva uma dimensão simbólica, a isso devemos chamar carteirada científica";
- "O discurso científico é o álibi perfeito para a ideologia, pois é o último lugar onde se esperaria encontrá-la"; e
- "Quem mais usa jargão é geralmente quem menos o compreende".

   Apesar da aversão contemporânea aos grandes sistemas totalizadores, concordo com a primeira citação... e vejo Spinoza bem caracterizado nesse "posto" de pensador.



segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Respeitando os próprios limites


   A revista O2 de janeiro/fevereiro de 2018 traz um artigo bem interessante de Harry Thomas Jr., com o título "Saber desistir é para os inteligentes".
   Antes de falar sobre o artigo, contarei um fato acontecido comigo, no meu primeiro treino deste ano.
   Era 03 de janeiro. Saí para o primeiro treino do ano. Tudo bem... performance não seria o caso. Depois dos excessos de Natal e Ano Novo, o objetivo era só fazer meus 8,5 km num ritmo confortável, sem forçar... ainda. Pois bem... ou melhor, pois mal... não cheguei nem aos 5 km. 
   Dizer que fiquei muito frustrado é o mínimo. Mas a verdade é que não me sentia bem enquanto corria. Estava calor... mas já corri em dias mais quentes e em ritmo mais forte. O fato é que FALHEI!!!
    Mas... li o Harry Thomas Jr. e me recuperei. Tanto que, no dia seguinte, fechei meus primeiros 8,5 km do ano. 
   Vamos ao que diz o artigo.
  "Reconhecer o seu limite numa competição e desistir do pace ou simplesmente desistir da prova em questão não é vergonha, mas sim um enorme aprendizado de foco, humildade e amadurecimento. 
   [...] Esqueça os memes que povoam as redes sociais do tipo 'No pain no gain' e 'Desistir é para os fracos'. Desista, sim, se for necessário para a preservação da sua saúde. Depois, com calma e tempo, analise onde está o erro (se é que ele existiu) e comece a pensar em um próximo desafio. Simples assim.
   [...] Corridas de rua ou de trilha pelo Brasil e pelo mundo não faltam, certo? Portanto, saber parar e saber a hora em que insistir não faz mais sentido é, na verdade, uma sabedoria de corredor que se adquire com maturidade. Desistir, meu caro amigo leitor, não é para os fracos, mas, sim, para os inteligentes".
   Show!!!!

A História do Brasil para quem tem pressa


   Sendo sincero, tenho um "pé atrás" com essas publicações "para quem tem pressa". Tenho... ou tinha? Pensava assim: "Como alguém pode pretender entender algo tão complexo, como a História do Brasil, tendo pressa?". 
   Mas queria fazer aqui um mea culpa, em relação ao livro de autoria do historiador, professor, pesquisador e escritor Marcos Costa.
  Certamente, não se conhecerá História do Brasil tendo pressa. Mas, como diz a introdução: "O livro é um voo panorâmico pela história do Brasil, por meio do qual salta aos nossos olhos a perspectiva do todo, fundamental para a compreensão dos fatos isolados".
   Deste modo, o livro atende ao propósito dos que têm pressa, seja para recordar o encadeamento dos diversos momentos históricos, seja para funcionar como uma "armadilha" que apreenderá a atenção do leitor para determinados eventos, fazendo-o pesquisar mais.
   Mas o que mais me entusiasmou no livro foi uma chamada política na introdução do mesmo. Vou citar com uma certa extensão.
   "[S]egundo Raymundo Faoro, pode-se dizer que, da chegada de Cabral até Dilma Roussef, uma estrutura político-social resistiu a todas as transformações fundamentais: 'A comunidade política conduz, comanda e supervisiona os negócios, como negócios privados seus, na origem, como negócios públicos, depois [...] Dessa realidade se projeta a forma de poder, institucionalizada num tipo de domínio: o patrimonialismo'.
    Esse imperativo categórico da sociedade brasileira, ou seja, a inviolabilidade daquilo que foi assim desde sempre, cria um elo profundo entre os que aqui chegaram em 1500 e os que aqui hoje estão. Os mesmos objetivos os animam: a espoliação, a expropriação, o lucro, a exploração. Esses fins justificam os meios utilizados, que passam sempre ao largo de um projeto de país, sempre ao largo dos interesses do povo.
   Não existe no Brasil, nem nunca existiu, um projeto de nação. Um projeto robusto que levasse em conta o interesse de todos, planejado para durar gerações e que pairasse acima dos eventuais problemas políticos. Como o que ocorreu no Japão, arrasado na Segunda Guerra Mundial. O Brasil só vai se encontrar com o seu futuro quando um pacto social em torno de um projeto de não for estabelecido e jamais rompido. Conhecer a história do Brasil é o primeiro passo para que esse projeto seja estabelecido, consiga resistir a eventuais tempestades e siga seu rumo em direção ao estado de bem-estar social pelo qual tanto almejamos".
   Eu acrescentaria que o conhecimento da História do Brasil será um dos quesitos para que possamos criticar o nosso presente - e passado próximo -, a fim de fazer ganhar em consistência um projeto de futuro.
   Obrigado por quebrar um preconceito meu, Marcos Costa!!!

Joyce Moreno


   No mesmo O Globo citado antes, foi publicada uma reduzidíssima entrevista, na coluna Gente Boa, com a cantora Joyce Moreno - que acabou de completar setenta anos, e está muito bonita na foto apresentada.
   Uma pergunta que achei "complicada" foi "Você curte artistas como Anitta e Pablo Vittar?". E a resposta foi de extrema delicadeza. Disse Joyce: "Não tenho interesse, então, não ouço. Não me sinto abalizada para comentar". 
   A resposta continua, mas o que foi dito me parece bastar. Em vez de simplesmente dizer que a música é ruim, quando comparada com seus próprios padrões musicais, Joyce diz não se interessar por aquele tipo de música - que, depois, ela define como "o que está na moda". Deve ouvir, vez por outra, na televisão ou no rádio, mas diz não se interessar em parar para "curtir" tais músicas. 
   Contudo, mais interessante é ela registrar que não se sente abalizada para comentar. Volto a dizer que, em vez de polemizar, como fez, por exemplo, Lulu Santos - embora eu ache que ele simplesmente expôs uma opinião... talvez, sem a delicadeza de Joyce -, a cantora evita julgar aquilo pelo que não tem interesse.

De-bate em de-bate


   O título do post é o mesmo de uma matéria publicada no jornal O Globo do último sábado. 
   A ideia básica apresentada era a de que, apesar de um aparente crescimento dos debates, por conta dos espaços disponíveis principalmente no mundo virtual, estamos vivendo uma crise nesse quesito.
   A matéria começa indicando que "debate", segundo o Aurélio, significa "troca de ideias em que se alegam razões pró ou contra, com vistas a uma conclusão". O ponto problemático está no "com vistas a uma conclusão". 
   Segundo Janet Sternberg, que é doutora em Teoria da Mídia, chegou à conclusão de que "vivemos uma crise do diálogo: nunca foi tão difícil ouvir o outro e trocar ideias".
   Outra estudiosa, Maria Homem - graduada em Filosofia e mestra em Psicanálise -, explica que "o debate político-social acontece entre duas pessoas, com impulsos, vaidades e preconceitos que eles mesmos, às vezes, desconhecem. E há vontade de vencer sempre. É como se fosse um diálogo de surdos". 
   Como indica a própria matéria, antes de apresentar a avaliação de Maria Homem, "vale lembrar que há mais fatores envolvidos do que a simples oposição de ideias. O que está em jogo não é só a razão, mas um bocado de emoção". 
   Em alguma medida, essas duas passagens reforçam a ideia de que o homem tem uma base efetiva que está sempre presente, por mais racional que pretendamos ser em nossas escolhas. Talvez porque só possamos admitir uma razão absolutamente instrumental, isto é, avaliadora apenas de meios para alcançarmos o fim inicialmente pretendido, que, em alguma medida, já foi "escolhido" afetivamente, de modo prévio, por parte deste complexo que chamamos de "eu".
   O ativista americano Eli Pariser, num livro de 2011, "já diagnosticava que, nas redes sociais, a tendência é nos cercarmos de opiniões que reforçam nossas crenças. É o conceito de filtros de 'bolhas'". O conceito pode ser novo no que concerne às redes sociais, mas é clássico para quem já se percebeu lendo qualquer texto a respeito de teses sobre determinada questão. A aproximação pelos textos que reforçam nossas próprias teses é quase natural. Contudo... para alguém que quer reforçar racionalmente suas próprias posições, é absolutamente fundamental confrontar abertamente as teses contrárias. Só assim o pensador honesto poderá testar a coerência da sua própria tese.
   Mas voltemos ao texto da matéria.
   Segundo Maria Homem, parte do problema é que "O debate virou catarse e as pessoas já chegam com raiva e emoção antes mesmo de a conversa começar". Portanto, não estaria sendo dada relevância à pretensão racional do debate.
   Mas o historiador Murilo Cleto diagnostica que "as pessoas não estão dialogando melhor porque sua ação nas redes não se dá pelo diálogo, mas pelo que ele chama de performance".
   O psicanalista e professor Christian Dunker acaba complementando a visão de Murilo Cleto, quando trata da conquista de audiência com a supracitada performance. Segundo Dunker, para conquistar a audiência, aquele que se insere em um pretenso diálogo faz um discurso em que o básico “é dizer o que a média já pensa, oferecer opiniões simplórias de bar”. Percebamos que não se trata de “simplificar” os argumentos, a fim de que eles se tornem inteligíveis para todos, mas repisar terrenos sem ganhar profundidade, ficando, como foi dito, nas “opiniões simplórias de bar” – se bem que, quando vou ao bar com meus amigos da Filosofia, acho que escavamos bastante os assuntos. Rsss.
   A matéria apresenta “Quatro mandamentos para uma boa discussão”. Seriam elas:
1)  Não distorça – atribuir ao adversário pontos de vista que ele não tem. Por ignorância ou má-fé mesmo, a conversa passa a girar em torno da negação de argumentos que nem sequer existem.
2)  Não personalize – é quando você ataca o adversário não pelas falhas no discurso dele, mas pelo seu caráter ou traços pessoais.
3)  Procure saber – é muito comum um debatedor colocar em dúvida o que o outro diz simplesmente porque não sabe do que o opositor está falando.
4)  Evite ironia – Não apenas isso, mas também sarcasmo, exageros [...] e ameaças (sutis ou explícitas). [...] Mas, se o objetivo é realmente expor uma tese, ouvir a antítese e chegar a uma síntese, carregar o discurso com piadas só vai poluir e polarizar o ambiente.